terça-feira, maio 31, 2016

Educação para a vida

Armando Ribeiro é psicólogo, coach e palestrante sobre Gestão do Estresse, Bem-Estar e Qualidade de Vida. Coordenador do Programa de Avaliação do Estresse da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

"João amava Teresa que amava Raimundo/ que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/ que não amava ninguém. João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história." Sábio poeta Carlos Drummond de Andrade em retratar a confusão dos nossos dias.

O mundo anda cada vez mais desfocado! Nossos filhos são desde muito cedo expostos à mais alta tecnologia da dispersão mental. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) e publicado na prestigiada revista Science demonstrou que a mente esta dispersa em 46,9% do tempo. Você pode até achar que está lendo este texto, mas é provável que sua mente já tenha se dispersado inúmeras vezes. Ops... O pior efeito da desatenção, concluem os pesquisadores: "A mente humana é uma mente dispersa, e uma mente dispersa é uma mente infeliz".

A ansiedade de informação é um dos efeitos colaterais de tempos líquidos (termo cunhado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman), sem tempo para refletirmos sobre o que os dados podem significar. Diariamente, somos soterrados por uma avalanche de novas informações. Em um único ano, podemos ter acumulado mais de 295 trilhões de megabytes de informação. Se cada bit de informação fosse um grão de areia, haveria 315 vezes mais areia do que há nas praias do nosso planeta, segundo estudo da Universidade do Sul da Califórnia (EUA).

Em nosso mundo 'VUCA' (sigla em inglês com sentido de volátil (Volatility), incerto (Uncertainty), complexo (Complexity) e ambíguo (Ambiguity), ao terminar este texto, tudo já pode ter mudado! Tudo? Ops... A educação para a vida não é aquela que faz nossos filhos decorarem dados históricos, fórmulas matemáticas e que são esquecidas logo após a prova! A educação deve contemplar competências cognitivas, mas fundamentalmente competências socioafetivas, ou seja, a escola do século 21 deve se transformar em uma escola para a vida integral e não para notas. Todos os pais anseiam pelo sucesso de seus filhos, mas é na prática diária nos consultórios médicos e hospitais que vemos que o sucesso pode cobrar um preço excessivo quando não vem associado a uma vida com sentido e propósito.

O melhor aluno nem sempre será o adulto mais feliz se a educação não ensiná-lo que o sucesso não é um fim em si mesmo e se não resultar em um ganho para seus entes queridos, comunidade e chegar até os cuidados com o planeta. A educação integral é aquela que permite que os alunos sejam empoderados durante o processo, aprender a aprender, mas principalmente aprender que a felicidade é aplicar suas competências para um bem maior do que atingir objetivos diários criados por uma visão fria, reducionista e imediatista comum na linguagem das planilhas. Para o psicólogo e neurocientista Richard Davidson (Laboratório de Neurociência Afetiva da Universidade de Winscosin-Madison nos EUA), "a felicidade é uma habilidade, assim como tocar violino ou jogar basquete. Quanto mais você praticar, melhor vai ficar".

Já para o psicólogo Shawn Achor, que ministrou um dos cursos mais concorridos na Universidade Harvard sobre a ciência da felicidade, "você não precisa ter sucesso para ser feliz, mas precisa ser feliz para ter sucesso", ou seja, não bastam boas notas ou um bônus no final do mês se não houver sentido e propósito em sua vida! Aprender a ser e a conviver deve se tornar a essência da educação para a vida, ou seja, transformadora. "Educar a mente sem educar o coração não é educação", lembra o grande filósofo grego Aristóteles.

Fonte: Blog Diário da Região 

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