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Pesquisa sugere que ansiedade acelera o envelhecimento

Ai, meus cabelos brancos


A ansiedade tem sido tema de diversas pesquisas. Uma delas, feita pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, sugere que a ansiedade pode envelhecer. O psiquiatra Elko Perissinotti, vice-diretor do Hospital-Dia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP, em São Paulo, explica que esse estudo foi realizado somente com mulheres, na faixa etária entre 42 e 69 anos. 

Os pesquisadores observaram que os telômeros dos cromossomos tornavam-se encurtados nos estados de ansiedade caracterizados como doença ou transtorno, ou seja, quadros de ansiedade de longa duração (meses ou anos), como os de pânico, fobia social, ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse pós-traumático, entre outros. 

“Telômeros encurtados são encontrados nos estados de envelhecimento, daí a hipótese sugestiva de que a ansiedade pode provocar o envelhecimento. Esse estudo sugere ao mundo científico que muitas outras pesquisas devem ser feitas para que esse fato se torne uma evidência médica”, explica Perissinotti. 

O psiquiatra diz que parece haver uma sintomatologia ansiosa com algumas diferenças entre homens e mulheres e o tratamento talvez tenha pequenas direções diferentes. Ele lembra que o equilíbrio ou desequilíbrio hormonal das mulheres tem importância capital nos processos ansiosos e depressivos. “O número de mulheres com doenças do espectro ansioso tem aumentado, e temos uma proporção aproximada de 3 a 4 mulheres para cada homem com o transtorno”, afirma. 

Além do fator hormonal, o psiquiatra explica que a mulher moderna é alvo fácil para o estresse altamente devastador. “Esse estresse, além de forte gatilho disparador de ansiedade e depressão, é também potente destruidor de órgãos, aparelhos e sistemas do corpo humano. Não seria surpresa, portanto, com toda essa parafernália de efeitos nocivos envelhecermos precocemente.” 

Armando Ribeiro, psicólogo e coordenado do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, ressalta que as mulheres têm sim uma prevalência maior de transtornos ansiosos, mas o problema pode afetar todos os gêneros e também diferentes faixas etárias, de crianças a idosos. 

Ainda de acordo com Ribeiro, os recentes estudos vêm comprovando que a ansiedade excessiva pode desequilibrar o organismo por meio da produção exagerada de hormônios do estresse responsáveis pela ativação dos mecanismos de sobrevivência que, quando utilizados por um longo tempo, interferem negativamente no funcionamento do sistema imunológico, por exemplo, tornando a pessoa mais suscetível às infecções e estimulando a formação de radicais livres nas células, o que contribui para um envelhecimento precoce de todo o organismo. 

O especialista conta que, segundo o estudo “São Paulo Megacity”, a ansiedade é o transtorno mental mais comum na Grande São Paulo, com prevalência de 19,9% da população. “Outro dado deste estudo populacional foi revelar que, apesar de São Paulo ter uma prevalência maior de transtornos mentais em relação a outras cidades do mundo que participaram da mesma pesquisa, apenas um terço dos brasileiros com transtornos graves recebeu tratamento nos 12 meses anteriores às entrevistas.” 

Ribeiro afirma que é preciso lembrar que os estados crônicos de ansiedade e de estresse também modificam o estilo de vida, tornando as pessoas mais sedentárias e com predileção por uma alimentação baseada em excesso de carboidratos refinados, gorduras ruins, entre outros. 

Efeitos no corpo e na mente 

O psicólogo Armando Ribeiro diz que a ansiedade é uma emoção complexa que sinaliza para o corpo que estamos sob ameaça. Qualquer sinal de perigo (real ou imaginário) vai ser percebido e interpretado por nossa mente, preparando nosso corpo para lutar ou fugir. 

A psicóloga Mara Lúcia Madureira explica que reconhecer ou imaginar uma situação ameaçadora ativa o sistema nervoso autônomo, que libera catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), substâncias responsáveis por alterações fisiológicas. “Enquanto circulam no organismo, as catecolaminas informam o sistema nervoso autônomo da persistência do perigo e viabilizam os recursos para lidar com a situação. Quando o perigo se dissipa, o ciclo das catecolaminas é interrompido e se restabelece o equilíbrio do organismo.” 

Mara afirma que muitas pessoas experimentam um desconforto crônico e não conseguem evitar a sensação de inquietação generalizada e recorrente, porque mantêm pensamentos geradores de ansiedade. “As consequências são estresse, insônia, dores musculares, inquietação, agitação, medo, insegurança e um sem-fim de sintomas.” 

Elko Perissinotti diz que todos têm ou passam por algumas fases com algum grau de ansiedade. “Ocorre que tornamos essa ansiedade patológica, nociva no momento em que nos obrigamos a uma tresloucada luta pelo poder e pelo dinheiro. Nossa alimentação torna-se de péssima qualidade, sacrificamos algumas horas de nosso sono fisiológico, desenvolvemos ideias fixas de altas e inesgotáveis ambições (como o consumo desenfreado, muito além dos nossos limites). 

Diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemias (colesterol e triglicérides), síndrome metabólica, riscos de infartos e derrames precoces são possibilidades que passam a nos assombrar constantemente, e em qualquer idade”, ressalta o psiquiatra. 

Embora a ansiedade possa ser a causa de algumas irregularidades no organismo, Perissinotti diz que ela só é considerada um distúrbio quando tornada doença, ou seja, quando leva a um contínuo e incapacitante sofrimento. Para Ribeiro, a ansiedade pode ser uma emoção comum, mas também assumir uma forma patológica. “Quando a ansiedade normal se transforma em um transtorno com sofrimento excessivo, é necessário o diagnóstico e tratamento por profissionais da saúde especializados”, recomenda. 


Sintomas e tratamento:



:: Preocupação excessiva, tensão crônica, medos exagerados, sensação de que algo ruim vai acontecer, suor, palpitação, tremores, sensação de respiração curta ou sufocada, dor ou desconforto no peito, náusea ou mal-estar abdominal, sensação de tontura ou desmaio, medo de perder o controle, medo de morrer, sensação de formigamento, arrepios ou ondas de calor são alguns dos sintomas da ansiedade, segundo Armando Ribeiro: 

:: O psicólogo diz que a ansiedade é resultado de alterações químicas no cérebro, mas tem forte associação com questões ambientais e estilo de vida. “O tratamento ideal deve ser baseado em um diagnóstico adequado por profissional capacitado. Somente após o diagnóstico é que o tratamento deverá ser indicado” 

:: A psicóloga Mara Lúcia Madureira explica que o tratamento da ansiedade é basicamente feito com terapia cognitivo-comportamental. Em alguns casos, é necessário a combinação das terapias farmacológicas, com prescrição médica e psicoterapia comportamental 

:: “O tratamento consiste na aquisição de técnicas de controle de ansiedade como treino de relaxamento muscular progressivo e de habilidades sociais, aquisição da capacidade para reavaliar situações ansiogênicas em condições mais favoráveis e exposição gradual às situações fóbicas. As técnicas de relaxamento e redução da ansiedade induzem a atuação do sistema nervoso parassimpático e levam o organismo a um estado de conforto e bem-estar”, afirma.

Fonte: Diário da Região

Comentários

  1. Armando Ribeiro, psicólogo e coordenado do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, ressalta que as mulheres têm sim uma prevalência maior de transtornos ansiosos, mas o problema pode afetar todos os gêneros e também diferentes faixas etárias, de crianças a idosos.

    Ainda de acordo com Ribeiro, os recentes estudos vêm comprovando que a ansiedade excessiva pode desequilibrar o organismo por meio da produção exagerada de hormônios do estresse responsáveis pela ativação dos mecanismos de sobrevivência que, quando utilizados por um longo tempo, interferem negativamente no funcionamento do sistema imunológico, por exemplo, tornando a pessoa mais suscetível às infecções e estimulando a formação de radicais livres nas células, o que contribui para um envelhecimento precoce de todo o organismo.

    O especialista conta que, segundo o estudo “São Paulo Megacity”, a ansiedade é o transtorno mental mais comum na Grande São Paulo, com prevalência de 19,9% da população. “Outro dado deste estudo populacional foi revelar que, apesar de São Paulo ter uma prevalência maior de transtornos mentais em relação a outras cidades do mundo que participaram da mesma pesquisa, apenas um terço dos brasileiros com transtornos graves recebeu tratamento nos 12 meses anteriores às entrevistas.”

    Ribeiro afirma que é preciso lembrar que os estados crônicos de ansiedade e de estresse também modificam o estilo de vida, tornando as pessoas mais sedentárias e com predileção por uma alimentação baseada em excesso de carboidratos refinados, gorduras ruins, entre outros.

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