quinta-feira, setembro 19, 2013

A capacidade de amar determina o bom funcionamento da mente. DiarioWeb


Livro de psicoterapeuta rio-pretense discute como a capacidade de amar determina o bom funcionamento de nosso “aparelho psíquico”, e diz que o sentimento se aprende na infância.

Por Francine Moreno / DiarioWeb

Você liga o rádio e está tocando uma canção romântica. Vai à livraria e se perde diante de tantos títulos com temática amorosa. Acessa as redes sociais e lê diversas declarações de amor. Nos cinemas, semanalmente, estreiam filmes com histórias açucaradas. O “bombardeio” reforçando a importância do amor vem de todos os lados. 

Renato Dias Martino, psicoterapeuta e escritor, de Rio Preto, acredita que o amor não pode ser um tema discutido e vivido apenas por romancistas, poetas e filósofos. Tanto que lança amanhã um livro sobre o tema e outras questões. “O amor e a expansão do pensar: Das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva”, editado pela Vitrine Literária, será apresentado nesta sexta-feira, às 19h30, no saguão da Biblioteca Municipal. 

Autor também de “Para Além da Clínica” e “Primeiros Passos Rumo à Psicanálise”, lançados respectivamente em 2011 e 2012, Martino afirma com base no seu novo livro que o amor é visto como sendo da ordem das capacidades e não como um sentimento. “A proposta do livro na realidade é de um ponto de partida para uma reflexão e não uma tentativa de definição de uma experiência tão nobre.” 
Para Martino, a capacidade de amar é fundamental para várias questões, especialmente para o bom desempenho da aparelho psíquico. 

“O Eros (o Cupido, em Roma) é aquele que liga e foi esse mito grego que Freud se utilizou para ilustrar o amor na psicanálise. A vida se faz através das ligações que resultarão na expansão. Sem Eros não há ligação, logo não há expansão afetiva.” O psicoterapeuta e escritor diz que a capacidade de amar é desenvolvida na infância. 

“Não nascemos sabendo amar. Só aprendemos amar se formos bem orientados nessa tarefa. Na infância é quando estamos mais abertos a aprender tudo, inclusive amar. Depois de adulto, temos maior dificuldade em aprender”, diz. Martino afirma que o amor mostra-se importante e imprescindível também na expansão do exercício do pensar. “A capacidade de unir-se ao outro é uma necessidade biológica, pois satisfaz algo de instintual e altamente vinculado ao funcionamento biológico, assim como é dessa união que depende a proliferação da espécie. Existe uma extensão para além do corpo físico, e é disso que trata o livro.” 

Ame sempre 

Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, diz que amar é um sentimento humano que intriga filósofos, psicólogos, neurocientistas e todas as pessoas que sentem esse sentimento ou a falta dele. 

“Para a tradição grega, o amor pode aparecer na forma de Ágape (amor autêntico), Philia (amizade autêntica) e Eros (amor romântico). O amor é um sentimento que traz aproximação entre as pessoas, é um indicador de saúde emocional e física”, afirma. 

Diferentemente das emoções negativas, como por exemplo medo e raiva, que têm função de sobrevivência e afastar os perigos, o amor é um sentimento complexo que recebe influência das culturas e serve para tornar as pessoas mais abertas à troca e ao contato humano. 

Emoções positivas 

Segundo o psicólogo Armando Ribeiro, a neurociên-cia vem descobrindo que quem ama produz quantidades consideráveis de oxitocina (conhecido por hormônio do amor, pois torna as pessoas menos agressivas, mais amáveis e com comportamentos sociáveis, além da redução do estresse) e a dopamina (substância do prazer, da motivação e da recompensa). 

Os estudos sobre inteligência emocional apontam que homens e mulheres pensam melhor se tiverem maior autocons-ciência e autocontrole das emoções. “A razão e a emoção não são simplesmente opostos, mas se equilibradas podem tornar a pessoa mais capaz de tomar decisões éticas e adequadas aos problemas da vida.” 

O amor também é importante para as pessoas saberem lidar com equilíbrio com as adversidades da vida. “A psicologia positiva, novo ramo da ciência do comportamento humano que busca compreender o sentido da vida, bem-estar e felicidade, aponta que as emoções positivas (por exemplo, o amor) são fundamentais para uma vida plena. As emoções positivas aumentam nossa capacidade de resistir (resiliência) frente às adversidades da vida.” 


Uma experiência ‘essencial’ 

O psicólogo de Rio Preto Alexandre Caprio diz que nossa estrutura mental tem como alicerce a necessidade do amor. E não importa se somos crianças ou adultos, nós sempre precisaremos amar e ser amados. “Precisamos aceitar e sermos aceitos. Não passar por tais experiências lança o indivíduo a uma série de problemas, dentre os quais se destacam a perda do papel social e da própria identidade. 

Você é conhecido e reconhecido pelo que faz aos outros, pela marca e impressão que cria nas pessoas que estão ao seu redor. Um beijo ou um abraço só podem ser seus se forem dados.” Para aquele que ainda não amou, a experiência pode não parecer essencial ao exercício intelectual, à identidade e até mesmo à vida social e profissional. 

Mas em muitas histórias reais e fictícias o amor alavanca o indivíduo e o leva a superar adversidades que jamais seriam vencidas se estivesse sozinho. “O ator Jim Carrey já deixou claro em suas entrevistas que seu filho foi elemento-chave de todo seu esforço e consequente sucesso. Mães que jamais fariam isso por elas mesmas trabalham dois turnos para mudar a vida de seus filhos.” 

Segundo Caprio, o “querer bem” torna-se “fazer o bem” a essa ou àquela pessoa. “O amor não move apenas músculos, mas estimula a mente a encontrar soluções e oportunidades com mais atenção e criatividade. Em resumo, nos tornamos mais eficientes na solução de problemas. E, com isso, nossos sonhos ficam um pouquinho mais perto, e a vida mais estimulante e prazeroza.” 

Livro lança olhar psicanalítico 

O livro “O amor e a expansão do pensar: Das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva”, segundo Renato Dias Martino, é uma extensão da realização psicanalítica que ele trabalha e possibilita uma série de recursos. “Isso busca de alguma forma se transformar em linguagem, escrita, falada e vivida. Para que minha verdade seja real, ela deve passar pelo olhar do outro e o livro busca essa confirmação.” 

A obra, de acordo com Martino, é uma continuação dos dois primeiros livros. “Para Além da Clínica”, pela Inteligência Editora 3, aborda, de forma acessível, questões relativas à psicoterapia, dos últimos avanços a temas como espiritualidade. Já “Primeiros Passos Rumo à Psicanálise” foi inspirado no conteúdo desenvolvido por ele em sala de aula e percorre um caminho introdutório, com breve biografia de Sigmund Freud, e também aspectos relacionados aos primórdios da criação de sua teoria. 

“O amor e a expansão do pensar” tem 90 páginas e prefácio assinado por Paulo Rezende, jornalista, escritor e editor do novo livro. A capa, vermelha, tem relação com o tema abordado. “Acredito ser um reflexo do conteúdo”, afirma. 
O livro reúne capítulos como “O desequilíbrio do pensar”, Das experiências de expansão do pensamento”, “A razão da crítica, Elogio e reconhecimento”, “Somos tão educados que perdemos o respeito”, entre outros. 

Serviço 

O amor e a expansão do pensar: das perspectivas dos vínculos no desenvolvimento da capacidade reflexiva (Vitrine Literária, 90 págs., R$ 30). Lançamento amanhã, às 19h30, na Biblioteca Municipal. Informações pelo (17) 3202-2316

Fonte: DiarioWeb

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