domingo, outubro 28, 2012

Domine o estresse - Revista daHora / Jornal Agora São Paulo


Domine o estresse
 
A tensão do dia a dia prejudica - e muito - a saúde. Descubra o que vem perturbando sua tranquilidade e veja dicas para ter uma vida melhor.
 
 
Quando a filha da executiva Débora Lima, 44 anos, nasceu, em 1998, os médicos deram a notícia de que existia a suspeita de um problema no intestino da criança. "Por conta disso, eu tive manchinhas na pele, que depois descamaram. Passados alguns meses, descobri que estava com psoríase por conta de estresse."

Débora não é a única que enfrentou o problema. Em situações de estresse, muitas pessoas desenvolvem doenças que estão associadas às adversidades pelas quais estão passando, mas elas nem sempre se dão conta disso.

O mal ocorre porque, quando a pessoa vivencia uma situação estressante, o cérebro faz o organismo liberar hormônios --como adrenalina e cortisol-- que, se não forem consumidos de alguma forma, ficam circulando pelo corpo e o desequilibram.

O Prof. Armando Ribeiro - psicólogo e coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo foi um dos especialistas consultados para esta matéria especial do jornal Agora São Paulo.

 
O poder da mente 

 
Por Camila Gomes
Revista daHora / Agora São Paulo
São Paulo, 28 de outubro de 2012

O estresse pode causar doenças dermatológicas, gastrointestinais e cardíacas. Saber lidar com as adversidades e investir em uma vida saudável é fundamental para se livrar do mal da modernidade.

Quando a filha da executiva Débora Lima, 44 anos, nasceu, em 1998, os médicos deram a notícia de que existia a suspeita de um problema no intestino da criança e que ela poderia ter de passar por uma cirurgia. “Por conta disso, meu marido ganhou uma mecha branca no cabelo, e eu tive várias manchinhas na pele, que depois começaram a descamar. Passados alguns meses, descobri que estava com psoríase por conta de estresse.”
Débora não é a única que enfrentou o problema. Em situações de estresse, muitas pessoas desenvolvem doenças que estão associadas às adversidades pelas quais estão passando, mas elas nem sempre se dão conta disso.

O mal ocorre porque, quando a pessoa vivencia uma situação estressante e fica com a mente focada nela, o cérebro faz o organismo liberar hormônios – como a adrenalina e o cortisol – que, se não forem consumidos de alguma forma, ficam circulando pelo corpo e o desequilibram. “Existe um estresse positivo, em que a pessoa se sente desafiada frente a algo na vida, que dá um gás a mais. Porém, quando ele é excessivo, passa a prejudicar o corpo”, afirma Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse da Beneficência Portuguesa.

No caso da pele, um dos órgãos mais afetados pelo estado de estresse, a liberação dos hormônios é muito maléfica. “Ela causa vasoconstrição periférica, que é a diminuição no calibre dos vasos sanguíneos que irrigam a pele. Com isso, a nutrição do cabelo diminui e ocorre queda. Já o cortisol diminui a imunidade e favorece inflamações, estimulando a urticária e dermatites – as famosas alergias”, explica Leonardo Abrucio Neto, dermatologista da Beneficência Portuguesa.

Com toda a pressão de ser diretor de programação da Rede Bandeirantes e de ter de estar disponível 24 horas por dia para tomar decisões importantes na emissora, Fernando Sugueno, 34 anos, desenvolveu alopecia, que é a queda de cabelo em apenas uma área da cabeça.  “A falha chegou a quase 15 centímetros e, hoje, está em torno de sete. Eu acabei fazendo uma pigmentação estética, como uma tatuagem, para escondê-la, porque as pessoas pensavam que era algo mais grave, e isso me incomodava. Pelo menos, eu amo o que eu faço.”

Ribeiro ressalta que o nervosismo causado por algo que se gosta de fazer, por mais que seja maléfico à saúde, ainda é menos agressivo do que um causado por algo que se faz apenas por obrigação. “Um executivo que trabalha em uma área da empresas da qual não gosta sofre muito mais do que um publicitário que tenha prazer com a profissão”, exemplifica.

Na vida da copeira Marinalva Felismina de Jesus, 58 anos, o estresse apareceu por conta de uma demissão – que a fez perder seu seguro de saúde justamente quando precisava realizar uma cirurgia no ombro. Ela teve que entrar na Justiça para reaver seus direitos, e o transtorno fez com que desenvolvesse vitiligo. “Passei dois meses só chorando, mais estou me tratando e tenho fé de que vou melhorar. Não nasci com isso.”

Motor do estresse

O cérebro manda a informação de situações estressantes para as glândulas suprarrenais, que produzem os hormônios cortisol e adrenalina, responsáveis  por causar o estresse e, consequentemente, as doenças ligadas a ele. Conheça algumas:

Psicológicas
Depressão, síndrome do pânico, ansiedade, insônia
Bucais
Bruxismo, gengivite, Guna (gengivite ulcerativa necrosante aguda)
Coração
Aumento da pressão arterial, infarto, arritmias cardíacas, derrame
Gastrointestinais
Queimação no estômago, gastrite, prisão de ventre, diarreia, síndrome do cólon irritável
Pele
Psoríase, vitiligo, queda de cabelo, alergias
Dores nas costas
Dores de cabeça

Fontes: Fernando Costa, cardiologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo; Rodrigo Bueno de Moraes, consultor científico da Associação Brasileira de Odontologia; Leonardo Abrucio Neto, dermatologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo; Jaime Zaladek Gil, gastroenterologista do Hospital Albert Einstein; e Denise Pará Diniz, coordenadora do setor de gerenciamento do estresse e qualidade de vida da Unifesp.

Mas não é apenas a pele que o estresse afeta. O corretor de imóveis Henrique Fornari, 31 anos, sempre foi ansioso e sofria com o bruxismo – que é o ranger dos dentes. Com o início da carreira no mercado imobiliário, a tensão passou também para as costas. “Eu procurei um ortopedista, mas não tinha nenhum desvio que pudesse indicar algo concreto, aí percebi que era relacionado ao meu estado emocional”, conta.

O dentista Artur Cerri, diretor da Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da APCD (Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas) explica que até a dor nas costas pode estar relacionada ao bruxismo. “O ranger dos dentes pode causar enxaqueca, cefaleia e dor nas costas, por cotna da tensão e compressão. É um movimento condicionado que tentamos corrigir com uma plaquinha lisa na maxila ou na mandíbula.”

Fornari recorreu à ioga para relaxar. “Ela me ajudou a saber lidar com o momento em que estou percebendo o estresse e a controlar a respiração. Assim, acabo dissipando a tensão”, conta.

Exercício físico também foi a solução para Débora. Ela entrou par ao time de vôlei das mães do colégio dos seus filhos há três anos, e as crises de psoríase melhoraram. “O vôlei é o meu maior remédio. Com ele, eu gasto energia, não tenho nenhuma responsabilidade nem penso em mais nada.” Já Sugueno viu nos grupos que pedalam por São Paulo à noite um escape para sua ansiedade e nervosismo. “É uma terapia sobre duas rodas”, conta, empolgado.

Fernando Costa, cardiologista da Beneficência Portuguesa, explica por que o exercício físico é tão importante para relaxar. “Ao se movimentar, a pessoa libera a adrenalina existente no corpo e relaxa. O sedentarismo é inimigo do combate ao estresse.”

Segundo Costa, 30% das mortes em todo o mundo acontecem por conta de infartos e derrames, e o estresse também pode desencadeá-los. “Ele facilita muito a penetração do colesterol nos vasos sanguíneos, e, quanto mais estressada a pessoa for, maior a possibilidade de entupimento das artérias.”

Há quase dois meses, o produtor editorial Miguel Silva, 30 anos, levou um susto enquanto dirigia. Por conta de problemas de saúde do pai e pressão no trabalho, ele já havia engordado 13kg. Nesse dia, sentiu um formigamento no braço esquerdo e pensou estar tendo um infarto. “Quando cheguei ao hospital, o médico falou que era estresse. Aí, descobri que minha enxaqueca agravava o quadro. E que comia mal e havia ganhado peso por conta disso.”

O incidente o despertou para os cuidados com a sua saúde. “Estou tentando comer menos e fazer as coisas de maneira mais eficiente. Antes, eu misturava trabalho e pós-graduação, agora estou separando bem. Também comprei uma corda para pular e caminho todos os dias 15 minutos até o metrô, trajeto que eu fazia de ônibus.”

Dicas para relaxar

Faça um passeio no parque
Apenas estar a céu aberto e no meio da natureza já é relaxante. Estudos comprovam que até o brilho do sol que entra na retina motiva a pessoa. Já uma caminhada ajuda a liberar a adrenalina que gera o estresse.

Reserve um tempo para ficar sozinho
Ter compromissos o tempo todo é muito estressante. Fique um tempo sozinho lendo um livro ou mesmo sem fazer nada. Isso o fará se sentir mais leve.

Assista a uma boa comédia
Rir faz tão bem quanto praticar exercícios. Assistir a filmes de suspense ou de terror aumenta o nível de cortisol no sangue e, consequentemente, piora o quadro de estresse.

Mude a alimentação
Comer uma salada bem caprichada, com amêndoas e frutas secas, por exemplo, substitui o fast food e evita a gordura, que agrava o estresse.

Fontes: Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse da Beneficência Portuguesa de São Paulo; e Denise Pará Diniz, psicóloga e coordenadora do setor de gerenciamento do estresse e qualidade de vida da Unifesp.

Apesar de muito importante, não é apenas o exercício físico que desestressa. Dedicar-se a outras atividades prazerosas também relaxa o corpo e a mente. Para fugir do estresse, que causava dor de barriga, alergia e alteração do seu ciclo menstrual, a arquiteta Patrícia Papassoni, 28 anos, passou a se dedicar à pintura. “Voltei a pintar porque minha fuga do estresse era sair para beber, o que me deixava cada vez pior. Agora, tenho esse momento só meu, em que pesquiso o desenho, faço composição de cores. É muito relaxante. Eu entro no quadro e não penso em nada mais”, define ela.

O arquiteto Lucas Barros, 33 anos, também arrumou uma solução diferente para o seu problema, que é passar horas no transito. Ele leva quase duas horas para chegar em Osasco (Grande SP), onde dá aulas à noite em uma universidade. “Eu evito o trânsito de todas as formas, porque me irrita muito. Faço caminhos alternativos e vou trabalhar de metrô quando posso. Quando não tem jeito, fico fotografando a rua sempre que o trânsito para, o que me mantém calmo. Estou até pensando em montar uma exposição”, conta.

Qualidade de vida

A psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que seu maior desafio é fazer os pacientes entenderem a importância da mudança no estilo de vida. “O estresse é um conjunto de reações que envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais. É preciso se exercitar, alimentar-se bem e aprender técnicas para lidar com os problemas. Não adianta apenas tratar a doença de pele ou estômago.”

O dentista Rodrigo Bueno de Moraes, consultor científico da Associação Brasileira de Odontologia, concorda que o especialista deve levarem conta o histórico do paciente antes de medicá-lo. “A dica é para as pessoas fugirem do médico que não faz uma entrevista inicial. Qualquer tratamento de saúde passa por uma avaliação de história médica”, ressalta.

Um exemplo de como o estilo de vida pode ser decisivo é o da estudante de psicologia Milena Parra, 32 anos, que recebeu um diagnóstico de câncer terminal aos 28 anos, com a expectativa de vida de apenas três meses. “Li que o estresse acaba com o sistema imunológico, então, resolvi relaxar e me cuidar.”

Com a mudança na alimentação e os cursos de cabeleireira, teatro e violão, ela está há quatro anos em tratamento e com o câncer estagnado. “Minha médica fala que a posição do paciente em relação à doença é 90% da cura, e eu acredito. Quando falam que você vai morrer, surgem dois sentimentos: um de desespero e outro de liberdade, que não é preciso se preocupar com dinheiro e velhice. Sai uma tonelada de cima da sua cabeça. Esse peso não voltou e parei de ficar me estressando com coisas que não me acrescentam nada.”


Teste o seu estresse
A autoavaliação dos sintomas relacionados ao estresse crônico pode ser um importante ponto de partida para buscar uma avaliação médica e/ou psicológica rigorosa. Assinale abaixo o que sentiu no último mês:


Queixas comportamentais:
() comer compulsivamente
() bebida alcoólica em excesso
() fumar em excesso
() adiamentos constantes
() atrasos no trabalho ou na escola
() problemas financeiros recorrentes

Queixas emocionais:
() tristeza
() ansiedade
() raiva
() medo

Queixas físicas:
() dor de cabeça frequente
() problemas digestivos
() problemas dermatológicos
() excesso de transpiração
() insônia
() fadiga

Queixas cognitivas:
() dificuldade para tomar decisões
() perda da criatividade
() perda da memória
() dificuldade para pensar com clareza
() perda do senso de humor
 
Observação: o teste não é um diagnóstico. Busque ajuda de um profissional especializado.

Resultado. Some as queixas assinaladas, sendo um ponto para cada uma.

Menos de cinco pontos – nível de estresse baixo. Você está conseguindo gerenciar bem o estresse, mas procure valorizar a sua qualidade de vida.

Mais de cinco pontos – nível de estresse moderado. Vale a pena prestar mais atenção à alimentação e fazer exercícios físicos.

Mais de dez pontos – nível de estresse alto. É interessante buscar o diagnóstico de um psicólogo e aprender técnicas de relaxamento.

Mais de quinze pontos – nível de estresse excessivo. Você está bastante estressado e precisa de tratamento especializado. Procure ajuda de um profissional.

Fonte: Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse da Beneficência Portuguesa.

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