Domine o estresse
A tensão do dia a dia prejudica - e muito - a saúde. Descubra o que vem perturbando sua tranquilidade e veja dicas para ter uma vida melhor.
Quando a filha da executiva Débora Lima, 44 anos, nasceu, em 1998, os médicos deram a notícia de que existia a suspeita de um problema no intestino da criança. "Por conta disso, eu tive manchinhas na pele, que depois descamaram. Passados alguns meses, descobri que estava com psoríase por conta de estresse."
Débora não é a única que enfrentou o problema. Em situações de estresse, muitas pessoas desenvolvem doenças que estão associadas às adversidades pelas quais estão passando, mas elas nem sempre se dão conta disso.
O mal ocorre porque, quando a pessoa vivencia uma situação estressante, o cérebro faz o organismo liberar hormônios --como adrenalina e cortisol-- que, se não forem consumidos de alguma forma, ficam circulando pelo corpo e o desequilibram.
Débora não é a única que enfrentou o problema. Em situações de estresse, muitas pessoas desenvolvem doenças que estão associadas às adversidades pelas quais estão passando, mas elas nem sempre se dão conta disso.
O mal ocorre porque, quando a pessoa vivencia uma situação estressante, o cérebro faz o organismo liberar hormônios --como adrenalina e cortisol-- que, se não forem consumidos de alguma forma, ficam circulando pelo corpo e o desequilibram.
O Prof. Armando Ribeiro - psicólogo e coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo foi um dos especialistas consultados para esta matéria especial do jornal Agora São Paulo.
O poder da mente
Por
Camila Gomes
Revista
daHora / Agora São PauloSão Paulo, 28 de outubro de 2012
O estresse pode causar doenças
dermatológicas, gastrointestinais e cardíacas. Saber lidar com as adversidades
e investir em uma vida saudável é fundamental para se livrar do mal da
modernidade.
Quando a filha da executiva Débora Lima,
44 anos, nasceu, em 1998, os médicos deram a notícia de que existia a suspeita
de um problema no intestino da criança e que ela poderia ter de passar por uma
cirurgia. “Por conta disso, meu marido ganhou uma mecha branca no cabelo, e eu
tive várias manchinhas na pele, que depois começaram a descamar. Passados
alguns meses, descobri que estava com psoríase por conta de estresse.”
Débora não é a única que enfrentou o
problema. Em situações de estresse, muitas pessoas desenvolvem doenças que
estão associadas às adversidades pelas quais estão passando, mas elas nem
sempre se dão conta disso.
O mal ocorre porque, quando a pessoa
vivencia uma situação estressante e fica com a mente focada nela, o cérebro faz
o organismo liberar hormônios – como a adrenalina e o cortisol – que, se não
forem consumidos de alguma forma, ficam circulando pelo corpo e o
desequilibram. “Existe um estresse positivo, em que a pessoa se sente desafiada
frente a algo na vida, que dá um gás a mais. Porém, quando ele é excessivo,
passa a prejudicar o corpo”, afirma Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do
programa de avaliação do estresse da Beneficência Portuguesa.
No caso da pele, um dos órgãos mais afetados pelo estado de estresse, a liberação dos hormônios é muito maléfica. “Ela causa vasoconstrição periférica, que é a diminuição no calibre dos vasos sanguíneos que irrigam a pele. Com isso, a nutrição do cabelo diminui e ocorre queda. Já o cortisol diminui a imunidade e favorece inflamações, estimulando a urticária e dermatites – as famosas alergias”, explica Leonardo Abrucio Neto, dermatologista da Beneficência Portuguesa.
Com toda a pressão de ser diretor de
programação da Rede Bandeirantes e de ter de estar disponível 24 horas por dia
para tomar decisões importantes na emissora, Fernando Sugueno, 34 anos, desenvolveu
alopecia, que é a queda de cabelo em apenas uma área da cabeça. “A falha chegou a quase 15 centímetros e,
hoje, está em torno de sete. Eu acabei fazendo uma pigmentação estética, como
uma tatuagem, para escondê-la, porque as pessoas pensavam que era algo mais
grave, e isso me incomodava. Pelo menos, eu amo o que eu faço.”
Ribeiro ressalta que o nervosismo causado
por algo que se gosta de fazer, por mais que seja maléfico à saúde, ainda é
menos agressivo do que um causado por algo que se faz apenas por obrigação. “Um
executivo que trabalha em uma área da empresas da qual não gosta sofre muito
mais do que um publicitário que tenha prazer com a profissão”, exemplifica.
Na vida da copeira Marinalva Felismina de
Jesus, 58 anos, o estresse apareceu por conta de uma demissão – que a fez
perder seu seguro de saúde justamente quando precisava realizar uma cirurgia no
ombro. Ela teve que entrar na Justiça para reaver seus direitos, e o transtorno
fez com que desenvolvesse vitiligo. “Passei dois meses só chorando, mais estou
me tratando e tenho fé de que vou melhorar. Não nasci com isso.”
Motor
do estresse
O cérebro manda a informação de situações
estressantes para as glândulas suprarrenais, que produzem os hormônios cortisol
e adrenalina, responsáveis por causar o
estresse e, consequentemente, as doenças ligadas a ele. Conheça algumas:
Psicológicas
Depressão,
síndrome do pânico, ansiedade, insôniaBucais
Bruxismo, gengivite, Guna (gengivite ulcerativa necrosante aguda)
Coração
Aumento da pressão arterial, infarto, arritmias cardíacas, derrame
Gastrointestinais
Queimação no estômago, gastrite, prisão de ventre, diarreia, síndrome do cólon irritável
Pele
Psoríase, vitiligo, queda de cabelo, alergias
Dores nas costas
Dores de cabeça
Fontes: Fernando Costa, cardiologista da Beneficência
Portuguesa de São Paulo; Rodrigo Bueno de Moraes, consultor científico da
Associação Brasileira de Odontologia; Leonardo Abrucio Neto, dermatologista da Beneficência
Portuguesa de São Paulo; Jaime Zaladek Gil, gastroenterologista do Hospital
Albert Einstein; e Denise Pará Diniz, coordenadora do setor de gerenciamento do
estresse e qualidade de vida da Unifesp.
Mas não é apenas a pele que o estresse
afeta. O corretor de imóveis Henrique Fornari, 31 anos, sempre foi ansioso e
sofria com o bruxismo – que é o ranger dos dentes. Com o início da carreira no
mercado imobiliário, a tensão passou também para as costas. “Eu procurei um
ortopedista, mas não tinha nenhum desvio que pudesse indicar algo concreto, aí
percebi que era relacionado ao meu estado emocional”, conta.
O dentista Artur Cerri, diretor da Escola
de Aperfeiçoamento de Profissionais da APCD (Associação Paulista dos Cirurgiões
Dentistas) explica que até a dor nas costas pode estar relacionada ao bruxismo.
“O ranger dos dentes pode causar enxaqueca, cefaleia e dor nas costas, por
cotna da tensão e compressão. É um movimento condicionado que tentamos corrigir
com uma plaquinha lisa na maxila ou na mandíbula.”
Fornari recorreu à ioga para relaxar. “Ela
me ajudou a saber lidar com o momento em que estou percebendo o estresse e a
controlar a respiração. Assim, acabo dissipando a tensão”, conta.
Exercício físico também foi a solução para
Débora. Ela entrou par ao time de vôlei das mães do colégio dos seus filhos há três
anos, e as crises de psoríase melhoraram. “O vôlei é o meu maior remédio. Com ele,
eu gasto energia, não tenho nenhuma responsabilidade nem penso em mais nada.”
Já Sugueno viu nos grupos que pedalam por São Paulo à noite um escape para sua
ansiedade e nervosismo. “É uma terapia sobre duas rodas”, conta, empolgado.
Fernando Costa, cardiologista da
Beneficência Portuguesa, explica por que o exercício físico é tão importante
para relaxar. “Ao se movimentar, a pessoa libera a adrenalina existente no
corpo e relaxa. O sedentarismo é inimigo do combate ao estresse.”
Segundo Costa, 30% das mortes em todo o
mundo acontecem por conta de infartos e derrames, e o estresse também pode
desencadeá-los. “Ele facilita muito a penetração do colesterol nos vasos sanguíneos,
e, quanto mais estressada a pessoa for, maior a possibilidade de entupimento
das artérias.”
Há quase dois meses, o produtor editorial
Miguel Silva, 30 anos, levou um susto enquanto dirigia. Por conta de problemas
de saúde do pai e pressão no trabalho, ele já havia engordado 13kg. Nesse dia,
sentiu um formigamento no braço esquerdo e pensou estar tendo um infarto. “Quando
cheguei ao hospital, o médico falou que era estresse. Aí, descobri que minha
enxaqueca agravava o quadro. E que comia mal e havia ganhado peso por conta
disso.”
O incidente o despertou para os cuidados
com a sua saúde. “Estou tentando comer menos e fazer as coisas de maneira mais
eficiente. Antes, eu misturava trabalho e pós-graduação, agora estou separando
bem. Também comprei uma corda para pular e caminho todos os dias 15 minutos até
o metrô, trajeto que eu fazia de ônibus.”
Dicas
para relaxar
Faça
um passeio no parque
Apenas estar a céu aberto e no meio da
natureza já é relaxante. Estudos comprovam que até o brilho do sol que entra na
retina motiva a pessoa. Já uma caminhada ajuda a liberar a adrenalina que gera
o estresse.
Reserve
um tempo para ficar sozinho
Ter compromissos o tempo todo é muito
estressante. Fique um tempo sozinho lendo um livro ou mesmo sem fazer nada. Isso
o fará se sentir mais leve.
Assista
a uma boa comédia
Rir faz tão bem quanto praticar
exercícios. Assistir a filmes de suspense ou de terror aumenta o nível de
cortisol no sangue e, consequentemente, piora o quadro de estresse.
Mude
a alimentação
Comer uma salada bem caprichada, com amêndoas
e frutas secas, por exemplo, substitui o fast food e evita a gordura, que
agrava o estresse.
Fontes:
Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse
da Beneficência Portuguesa de São Paulo;
e Denise Pará Diniz, psicóloga e coordenadora do setor de gerenciamento do
estresse e qualidade de vida da Unifesp.
Apesar de muito importante, não é apenas
o exercício físico que desestressa. Dedicar-se a outras atividades prazerosas
também relaxa o corpo e a mente. Para fugir do estresse, que causava dor de
barriga, alergia e alteração do seu ciclo menstrual, a arquiteta Patrícia
Papassoni, 28 anos, passou a se dedicar à pintura. “Voltei a pintar porque
minha fuga do estresse era sair para beber, o que me deixava cada vez pior. Agora,
tenho esse momento só meu, em que pesquiso o desenho, faço composição de cores.
É muito relaxante. Eu entro no quadro e não penso em nada mais”, define ela.
O arquiteto Lucas Barros, 33 anos, também
arrumou uma solução diferente para o seu problema, que é passar horas no
transito. Ele leva quase duas horas para chegar em Osasco (Grande SP), onde dá
aulas à noite em uma universidade. “Eu evito o trânsito de todas as formas, porque
me irrita muito. Faço caminhos alternativos e vou trabalhar de metrô quando
posso. Quando não tem jeito, fico fotografando a rua sempre que o trânsito
para, o que me mantém calmo. Estou até pensando em montar uma exposição”,
conta.
Qualidade
de vida
A psicóloga Denise Pará Diniz,
coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo), afirma que seu maior desafio é fazer os
pacientes entenderem a importância da mudança no estilo de vida. “O estresse é
um conjunto de reações que envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais. É
preciso se exercitar, alimentar-se bem e aprender técnicas para lidar com os
problemas. Não adianta apenas tratar a doença de pele ou estômago.”
O dentista Rodrigo Bueno de Moraes, consultor
científico da Associação Brasileira de Odontologia, concorda que o especialista
deve levarem conta o histórico do paciente antes de medicá-lo. “A dica é para
as pessoas fugirem do médico que não faz uma entrevista inicial. Qualquer
tratamento de saúde passa por uma avaliação de história médica”, ressalta.
Um exemplo de como o estilo de vida pode
ser decisivo é o da estudante de psicologia Milena Parra, 32 anos, que recebeu
um diagnóstico de câncer terminal aos 28 anos, com a expectativa de vida de
apenas três meses. “Li que o estresse acaba com o sistema imunológico, então,
resolvi relaxar e me cuidar.”
Com a mudança na alimentação e os cursos
de cabeleireira, teatro e violão, ela está há quatro anos em tratamento e com o
câncer estagnado. “Minha médica fala que a posição do paciente em relação à
doença é 90% da cura, e eu acredito. Quando falam que você vai morrer, surgem
dois sentimentos: um de desespero e outro de liberdade, que não é preciso se
preocupar com dinheiro e velhice. Sai uma tonelada de cima da sua cabeça. Esse peso
não voltou e parei de ficar me estressando com coisas que não me acrescentam
nada.”
Teste
o seu estresse
A autoavaliação dos sintomas relacionados ao estresse crônico pode ser um
importante ponto de partida para buscar uma avaliação médica e/ou psicológica
rigorosa. Assinale abaixo o que sentiu no último mês:
Queixas comportamentais:
()
comer compulsivamente() bebida alcoólica em excesso
() fumar em excesso
() adiamentos constantes
() atrasos no trabalho ou na escola
() problemas financeiros recorrentes
Queixas emocionais:
()
tristeza() ansiedade
() raiva
() medo
Queixas físicas:
() dor
de cabeça frequente() problemas digestivos
() problemas dermatológicos
() excesso de transpiração
() insônia
() fadiga
Queixas cognitivas:
()
dificuldade para tomar decisões() perda da criatividade
() perda da memória
() dificuldade para pensar com clareza
() perda do senso de humor
Observação: o teste não é um diagnóstico. Busque ajuda de um profissional especializado.
Resultado. Some as queixas assinaladas, sendo um
ponto para cada uma.
Menos de cinco pontos – nível de estresse
baixo. Você está
conseguindo gerenciar bem o estresse, mas procure valorizar a sua qualidade de
vida.
Mais de cinco pontos – nível de estresse
moderado. Vale a pena
prestar mais atenção à alimentação e fazer exercícios físicos.
Mais de dez pontos – nível de estresse
alto. É interessante
buscar o diagnóstico de um psicólogo e aprender técnicas de relaxamento.
Mais de quinze pontos – nível de estresse
excessivo. Você está
bastante estressado e precisa de tratamento especializado. Procure ajuda de um
profissional.
Fonte: Armando Ribeiro, psicólogo e
coordenador do programa de avaliação do estresse da Beneficência Portuguesa.
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