domingo, setembro 02, 2012

É possível perdoar uma traição?



É possível perdoar uma traição?


Por Francine Moreno

Jornal Diário da Região / São José do Rio Preto, 2 de setembro de 2012


No final de junho, Robert Pattinson, intérprete de um dos vampiros mais queridos do cinema, descobriu que seu par em “Crepúsculo” e na vida real, Kristen Stewart, o traiu com Rupert Sanders, diretor de “Branca de Neve e o Caçador”. O romance foi capa de todos os tabloides do mundo e na internet os fãs mostraram toda a fúria contra a atriz. 

Pattinson não perdoou a traição e saiu da casa que dividia com Kristen. A modelo Liberty Ross, mulher de Sanders, quer divórcio e pretende voltar para a Inglaterra com os filhos. 

A reação dos traídos tem uma explicação. Independente de ser homem ou mulher, ninguém quer ser humilhado publicamente. E todas as desculpas, das mais nobres às mais esfarrapadas, parecem inadmissíveis. O problema maior é que, apesar de ser horrível para qualquer um dos lados, quase todo mundo já passou por isso em alguma fase da vida. 

Mas como lidar com a infidelidade? A traição é perdoável? A monogamia é possível? Existem razões para trair? A culpa é de quem? Armando Ribeiro das Neves Neto, psicólogo do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, afirma que, em geral, é difícil encontrar uma justificativa ética para o comportamento, mas é possível compreendê-lo no contexto de origem, nos valores pessoais e culturais. 

“A psicologia pode ajudar o traído e também o traidor a dar sentido para esse comportamento, para além das explicações simplistas e superficiais”, diz. A traição é mais um comportamento complexo da espécie, que, evolutivamente, deveria garantir uma maior chance de reprodução e sucesso da transmissão dos genes, mas, com o desenvolvimento da civilização e da cultura humana, tornou-se para alguns válvula de escape das tensões e angústias. 

“No consultório, atendo casos em que a traição para alguns é uma regra de conduta aceita e valorizada na sua visão do que é ser homem/mulher (consciente); para outros, a traição é um episódio de perda do autocontrole frente a uma forte emoção (inconsciente)”, afirma Neto. 

Os motivos que geram atos infiéis podem ser inconscientes. Baixa autoestima, mágoas, culpa, estresse interpessoal e conflitos emocionais podem tornar os relacionamentos frágeis o suficiente, abrindo as portas para uma relação extraconjugal. 

“O ideal é que as pessoas pudessem tomar consciência dessas fragilidades antes que a traição se tornasse válvula de escape, um jeito ruim de tentar aliviar as angústias de um casamento conflituoso”, afirma o psicólogo. 

De acordo com Neto, para alguns a traição é considerada um comportamento culturalmente aceito, se lembrarmos da cultura “machista” ou mesmo do seu oposto “feminista”, mas é possível descobrir fortes emoções por trás desse verniz de lógica ou razão. E não há um perfil definido de quem trai, e também caiu por terra a lenda de que mulher não é infiel. Para alguns, pode ser insatisfação na relação ou baixa autoestima; para outros, apenas uma aventura. 

Impulsos inconscientes, autoafirmação e possessividade podem levar à infidelidade. Assim como imaturidade e insegurança. Mas a busca pelos motivos da traição é um caminho solitário. “Aqueles que possuem histórias recorrentes de traição, prejudicando famílias e filhos, por exemplo, precisam buscar seus motivos pessoais, sejam eles reais ou imaginários, como os pensamentos distorcidos em relação ao papel de homem”, alerta Neto. 

Oswaldo M. Rodrigues Jr., psicólogo do Instituto Paulista de Sexualidade - Clínica de Psicologia em Sexualidade, afirma que as características de personalidade que implicam em permitir que impulsos sejam seguidos é o que conduz à quebra da fidelidade socialmente proposta. 

“Falhas do aprendizado de como administrar as regras sociais, administrar as frustrações sentidas com o cotidiano e a impossibilidade de ter todas as vivências em paralelo é como ocorre a quebra da condição de fidelidade”. 

Para o especialista, perdoar uma traição é um mecanismo emocional humano que pode restabelecer o equilíbrio de um relacionamento de casal, que, de outra forma, se manteria prejudicado pela existência de um relacionamento paralelo.

Na opinião de Rodrigues Jr., a infidelidade só é admissível se for uma escolha de todos os envolvidos. “Se a regra do casal não for a fidelidade ou a exclusividade sexual e afetiva no relacionamento, nunca haverá infidelidade. Somente se pode considerar infidelidade quando a fidelidade foi acordada entre os dois envolvidos no casal. As regras de entrosamento do casal é que determinarão o que se chama de fidelidade ou infidelidade”. 

Jogos de poder 

Há quem diga que trai para salvar o casamento. Algo conflituoso, segundo Armando Ribeiro das Neves Neto, psicólogo do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Se alguns casais transformam a traição em motivo para resgatar uma relação conflituosa, Neto pensa que nem sempre isso dá certo.” A traição também pode ser a pedra definitiva para o encerramento de uma linda história”, acredita. 

Oswaldo M. Rodrigues Jr., psicólogo do Instituto Paulista de Sexualidade - Clínica de Psicologia em Sexualidade, afirma que muitas pessoas acreditam que precisariam de mais experiências sexuais e afetivas para solucionar problemas do relacionamento. “Em alguns casos, pode até dar certo, mas não é a regra.” 

Há quem afirme que quem é traído é vítima de uma relação de poder. Mas a traição é também um jogo de poderes. “Poder de controlar a si mesmo e o outro na relação”, define Neto. De acordo com o psicólogo Oswaldo M. Rodrigues Jr., se o casal estruturou-se numa determinada relação de poder, e se trair o contrato social do relacionamento estiver de acordo com essas regras de poder, então teremos um sob o poder do outro. “Mas não será uma vítima, é coparticipante, é corresponsável.”



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