Armando Ribeiro das Neves Neto é psicólogo, palestrante e educador
Você já sentiu que alguém o compreendeu profundamente? Quando você interage com outras pessoas, consegue ler adequadamente a sua linguagem corporal, seu tom de voz, as expressões do olhar e da face como se estivesse lendo um livro? Para muitos, as pessoas guardam belas histórias. Para outros, grandes interrogações. Assim também acontece o tempo todo nas relações humanas. Somos todos diferentes, mas não desiguais! A empatia é a capacidade de ver o mundo com os olhos do outro. Tem origem no vocábulo grego "empátheia" e carrega o sentido de ver os outros como eles mesmos se veem. A empatia possui componentes cognitivos, afetivos, comportamentais e morais. Enquanto a simpatia tem mais relação com o desejo de agradar. Uma vez Rubem Alves escreveu: "A ética nasce da empatia, esta capacidade que temos de sentir aquilo que está acontecendo com o outro. Mas isto só é possível se se acreditar que somos parecidos, moradores de um mundo comum, de alguma forma irmanados."
Cada vez mais a empatia se torna um desafio num mundo assombrado pelo individualismo feroz, em que criamos nossos filhos para serem os herdeiros de nossos desejos irreais, como se o mundo fosse apenas um campo de batalha entre nossas necessidades e insatisfações. O psicólogo Carl Rogers já assinalava que "Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele". Ensinamos aos nossos alunos lições difíceis de ciências, matemática e história, mas reclamamos cada vez mais do mau atendimento por parte dos nossos médicos, advogados e prestadores de serviços em geral. Não nos sentimos mais compreendidos. O olho no olho passa a ser o olho na tela digital, no resultado dos exames, no atendimento virtual, geralmente frio e superficial. Pesquisadores já apontaram que grande parte das questões que chegam aos tribunais é de fato ausência de compreensão mútua, muito mais do que a questão original em si.
Na escola médica da Universidade Harvard, nos EUA, conheci o trabalho de Helen Riess no Programa de Ciências do Relacionamento e da Empatia do Massachussetts General Hospital, um dos mais importantes dos EUA. Seu programa tem como objetivo treinar os jovens estudantes de medicina e demais profissionais da saúde na comunicação empática e escuta acolhedora, através de exercícios que cultivam a presença (mindfulness), a compaixão e a conexão empática entre as pessoas. "Curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre" é um ditado médico antigo, mas muitas vezes ofuscado pela alta tecnologia biomédica dos nossos tempos. A dra. Riess demonstrou em suas experiências que quando sentimos empatia há ressonância nos batimentos cardíacos, condutância elétrica da pele e das ondas cerebrais. Empatia é sintonia fina, e, como uma dança, ou aprendemos a dançar no mesmo ritmo ou pisamos no pé um do outro. Ai!...
Os resultados do treinamento em empatia na escola médica têm sido associados com menor número de erros médicos, melhores resultados clínicos e aumento da satisfação dos pacientes, além da diminuição das ações por imperícia, diminuição da síndrome de burnout (esgotamento profissional) e de profissionais mais felizes. Outros estudos também apontam que o desenvolvimento da empatia no trabalho aumenta o engajamento e melhora o clima organizacional. Na escola, diminui a evasão escolar e o bullying. Nos casamentos, aumenta a taxa de uma vida em comum feliz e próspera.
É possível aprender empatia?
Sim. Os resultados são inequívocos. Desde o nosso nascimento e as primeiras experiências de nossas vidas estamos fortalecendo nossa capacidade de empatia, ou não. Como qualquer outra habilidade, a empatia pode ser promovida por experiências de vida ou através de treinamentos especializados. O método desenvolvido pela dra. Riess em Harvard utiliza o acrônimo "EMPATHY" (em inglês), ou seja, (E) olho no olho, (M) observar as microexpressões faciais, (P) observar a postura corporal, (A) identificar o afeto, (T) identificar o tom da voz, (H) ouvir toda a pessoa e (Y) sua resposta. Desenvolver a empatia é uma das habilidades mais importantes para o nosso mundo atual e, infelizmente, uma das mais desprezadas. "Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer", já dizia o pequeno Príncipe.
Fonte: Jornal Diário da Região
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