domingo, maio 19, 2013

Corpo e a mente ativos por meio de atividades culturais - DiarioWeb


Lena Villa, 42 anos, que mora em Mirassol, concilia o trabalho e o cuidado dos três filhos com as aulas de balé no Automóvel Clube

Corpo e a mente ativos por meio de atividades culturais


Por Francine Moreno
DiarioWeb - Jornal da Região
São José do Rio Preto - SP, 19/05/2013


Iraci Bertaco, 72 anos, nunca foi de ficar parada. Apesar de jamais ter trabalhado fora, ela cuidava da casa, dos filhos e costurava. Nem se lembra muito bem de quando se aposentou. Um dia, em casa, ela refletiu que ainda tinha força, mas os dias estavam passando rápido e ela deveria aproveitar a vida. Superado um divórcio, Iraci decidiu renovar. Só não imaginava que se divertiria... atuando.

Após fazer aulas de coral e dança na unidade do Sesc, em Rio Preto, e também atividades físicas como caminhada, ela decidiu mergulhar no universo teatral por meio de uma oficina de teatro com Ronaldo Celeguini. Com ajuda de outros alunos e do professor, ela está dando seus primeiros passos na arte teatral. O mais importante, no entanto, é a sensação de bem-estar. “Quando estou fazendo alguma atividade, sinto-me muito bem. E a aula de teatro é uma novidade que ocupa minha mente e me traz novos amigos”, diz.

Iraci integra um grupo de homens e mulheres que equilibram a rotina diária com qualidade de vida por meio de atividades não só recreativas e físicas, mas artísticas e culturais. A empresária Lilian Cristina Bertolino Larsen de Lima, 36 anos, é outro exemplo. Mãe de dois filhos menores de oito anos, ela começa a rotina cedo e só termina depois das 22 horas. Depois de emendar várias funções, ela “bate o ponto” pelo menos duas vezes por semana na aula de balé.

Ela não faz a atividade por vaidade e durante a aula esquece um pouco da cobrança de ser mulher, mãe, esposa, filha e empresária. “É um tempo para não pensar em nada e para realizar um sonho de infância. A cada aprendizado, eu me emociono. Esse é meu momento, algo muito íntimo”. A atividade física melhora a qualidade mental e física dela, essencial para Lilian ficar bem disposta na empresa. “Trabalho com números e ter tranquilidade é essencial”, afirma.

O bem-estar proporcinado pela dança foi eternizado por meio de uma tatuagem com o desenho de duas sapatilhas no meio das costas. Além do acessório, a tatuagem traz a frase: “O único caminho de se alcançar o impossível é pensar no impossível”. O texto em latim foi a forma encontrada por ela para demostrar que é preciso persistir. A turma de balé da qual ela participa surgiu após conversar com outras mulheres interessadas e com as professoras, que toparam a iniciativa.

O balé também faz parte da rotina da jornalista Lena Villa, 42 anos. Com o objetivo de cuidar da mente e do corpo, ela encaixou a atividade numa brecha do dia a dia. Mesmo morando em Mirassol e com três filhos, ela decidiu resgatar suas sapatilhas e dançar no período em que os filhos estão na escola. “Para fazer as aulas, eu acordo às 6 horas da manhã para preparar as crianças e tenho apenas 15 minutos para me arrumar. No entanto, a correria vale a pena e os resultados são perceptíveis. As aulas melhoraram meu astral, sinto minhas pernas mais resistentes. É como uma terapia.”

Lilian e Lena fazem aula na escola de Ballet do Rio Preto Automóvel Clube, que é comandada há quase 40 anos pela professora Lourdes Almeida, a tia Lourdinha, e por sua filha, Ana Lúcia. Da mesma turma participa a manicure Tatiana Soares, 31 anos. Com uma rotina cronometrada, ela faz as aulas no tempo que resta antes de ir trabalhar e depois cuidar da casa e do filho de 12 anos. E nesta correria, ela tem consciência que a disciplina é fundamental. “Minha rotina tem horário para tudo. Mas a falta de tempo não é uma desculpa. O importante é que a dança não é uma obrigação, mas um prazer. Me sinto realizada no balé.”

Guilherme Baffi
Curso de teatro ministrado pelo ator Ronaldo Celeguini e drecionado à terceira idade, no Sesc
‘É muita novidade’

A aposentada Terezinha Fioreze, 79 anos, ensina que o importante é aproveitar a vida com atividades que proporcionem qualidade de vida, bem-estar e prazer, seja exercitando a mente ou o corpo. Costureira por mais de 50 anos, ela é frequentadora de atividades voltadas para turma da terceira idade do Sesc. A primeira da qual participou foi há 20 anos.

“Teve uma palestra de alimentação saudável e natural, e como sou interessada no assunto fui participar, e nunca mais parei de praticar atividades que me geram bem-estar.” Incentivadora, ela diz que todos devem agregar atividades que estimulem a qualidade de vida na rotina e não precisa esperar a aposentadoria para tomar uma atitude. “Todos têm problemas, falta de tempo, cuidados com os filhos, entre outras preocupações, mas devem fazer da fase atual a melhor da vida”, afirma.

E essa busca por bem-estar pode ser encontrada em atividades lúdicas como a oficina de teatro que vem sendo ministrada pelo ator Ronaldo Celeguini, no Sesc. “Estou gostando muito da aula. É uma forma de vivermos bem e melhor...” Ela também já fez aulas de coral, italiano, espanhol e florais.

Terezinha conta que já havia feito teatro quando mais jovem. O único problema de retornar, segundo ela, é acompanhar a modernidade. “É muita novidade, mas não desisto. Todo mundo perecebe que sou ativa”, alegra-se. Na sua opinião, as aulas de teatro, por exemplo, deveriam ser obrigatórias nas escolas. “A atividade é uma base para as crianças crescerem felizes e saudáveis.”

O aposentado Jandyr Paizan, que faz mistério com a idade, é da turma de Terezinha na oficina de teatro. Ele, que foi professor universitário, sempre cuidou da família e estudou. “Mantive minha cabeça ativa.” Hoje, viúvo, ocupa seu tempo com atividades culturais. Na Casa de Cultura “Dinorath do Valle”, participou de um curso básico de teatro e, no Sesc, fez dança, percussão, aulas de internet. “É uma forma de acrescentar informações e trabalhar o cérebro”, diz Paizan, que tem Facebook e se conecta com antigos e novos amigos.

Guilherme Baffi
“A aula de teatro é uma atividade que ocupa minha mente e me traz novos amigos”, diz Iraci Bertaco, de 72 anos
‘Máquina’ em uso

Manter o corpo e a mente em movimento por meio de atividade físicas, culturais e mentais traz inúmeros benefícios. De acordo com Armando Ribeiro, psicólogo e coordenador do programa de avaliação do estresse do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, o corpo e a mente podem ser comparados às máquinas domésticas que, sem uso, enferrujam e estragam. “Um violão há muito tempo guardado no armário desafina, um carro há muito tempo parado descarrega a bateria e etc. Nosso corpo precisa de atividade física regular, alimentação equilibrada e um boa dose de estresse positivo (denominado eustresse) para manter-se saudável.”

Segundo ele, quem pensa que porque ficou velho não precisa mais cuidar do corpo e da mente adoece. “Nos diferenciamos dos outros animais porque podemos passar a vida toda aprendendo coisas novas e estimulantes. Atividades lúdicas, sem aquela pressão da juventude, podem ser tão úteis para afastar a depressão quanto medicamentos e demais terapias”, diz. “Cada vez mais descobrimos que o segredo da longevidade saudável é manter-se ativo física e mentalmente por toda a vida.”

A psicóloga cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira afirma que pessoas que negligênciam aspectos imateriais da vida tendem a demonstrar vazio cultural, apego demasiado e irracional a coisas materiais e sentimentos de desvalia. “Por exemplo, quem não aprende a valorizar alguma atividade artística não desenvolve o senso de apreciação e contemplação do belo e do sublime. Não há, fora da arte, encantamento para os sentidos quando já se alcançou o topo das conquistas fundamentais: educação, sucesso profissional e social, estabilidade econômica e familiar a não ser a satisfação de experiências mais elevadas, só possíveis de alcançar pelas trilhas da sensibilidade artística, intelectual e espiritual”, diz. 

Fonte: DiarioWeb

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