Coronavírus: hábitos saudáveis ajudam a manter saúde mental em meio a isolamento - Saúde - Estadão. Leia a matéria no link
Em relatos nas redes sociais e em desabafos com amigos e familiares, pessoas têm relatado falta de ar,
insônia e aumento da ansiedade. Os sintomas, segundo especialistas, têm relação com a brusca
mudança na rotina imposta pelo isolamento social, medida adotada para evitar a disseminação no
novo coronavírus.
Os impactos na saúde mental podem ser sentido por crianças, adultos e idosos e é
importante ficar atento para que eles não se agravem. Quem já faz tratamento para depressão,
ansiedade ou outra questão, não deve interromper o tratamento nem alterar as doses dos
medicamentos sem conversar com o profissional que o acompanha.
Para amenizar a situação, mantenha contato com as pessoas que ama, tenha hábitos saudáveis e
pratique o autocuidado. É fundamental dar atenção para as suas necessidades e fazer atividades
agradáveis neste período.
O Estadão levantou dúvidas sobre questões que impactam no dia a dia das pessoas e mantém o grupo
EstadãoInforma: Coronavírus, espaço para discussão e troca de informações sobre a
pandemia criado pelo jornal no Facebook.
O grupo é um espaço para discussão e troca de informações sobre a pandemia na rede social. Qualquer
usuário pode se inscrever e enviar suas dúvidas.
As respostas têm como base entrevistas com Armando Ribeiro, psicólogo com treinamento em
gestão do estresse pela Harvard Medical School, e Karen Elise de Campos, especialista do Senac São
Paulo e gerontólogo com especialização em sociopsicologia, e também reportagens do Estadão.
Quais problemas psicológicos podem surgir durante o período de quarentena? Quais são
os sintomas?
Estar isolado não é uma característica natural do ser humano. Vivemos em rede e, até mesmo quando
nos chateamos com alguém, procuramos outra pessoa ou outro recurso vindo de um ser humano para
nos consolar. Quem não apresenta nenhum transtorno de saúde emocional também pode se abalar
motivados pela alteração repentina da rotina, o medo de contágio, a ansiedade gerada pelas incertezas
relacionadas desde o adoecimento, o medo da perda de entes queridos até as incertezas econômicas.
Isso tudo pode resultar em estresse, causando sintomas da ansiedade, como medo, tremores,
palpitação, dores no corpo (por tensão muscular), dor no peito, respiração mais ofegante, enfim, vários
sintomas que podem até indicar uma falsa sensação de estar com a doença. O acompanhamento dessas
pessoas que apresentarem sintomas contínuos de ansiedade deve prosseguir para além do término do
isolamento, visto que, com o aumento do período de quarentena, esses sintomas podem se tornar
crônicos, evoluindo para depressão e outros transtornos psicológicos. As pessoas que se sentirem mal
devem buscar ajuda. Diversos profissionais fazem atendimentos virtuais. Ninguém está sozinho. Há
uma rede solidária e empática no enfrentamento do isolamento que pode ser acionada.
Por que o isolamento desencadeia quadros de ansiedade e pânico?
A ansiedade é uma reação natural do organismo frente à percepção de perigo ou ameaça, seja ela real ou
imaginária, e prepara o organismo para o enfrentamento (resposta de fuga, luta ou congelamento) desta
situação. Com o aumento da produção de alguns neuro-hormônios, como a adrenalina, noradrenalina e
cortisol, a fisiologia normal se altera e aparecem os sintomas da ansiedade: tensão muscular, sudorese,
aumento da frequência cardíaca, tremores, angústia, ansiedade, nervosismo, insônia, alteração do
apetite, inquietação motora. Quando a situação ameaçadora termina ou é controlada, o organismo volta
ao estado fisiológico normal. Com a persistência da situação, o organismo vai produzindo uma
quantidade excessiva desses hormônios e acaba se tornando vulnerável ao aparecimento de diversas
doenças, como problemas cardiovasculares, AVC, doenças autoimunes e doenças digestivas. A restrição
do contato social é uma possível fonte desencadeadora da percepção de perigo em seres sociais como
são os seres humanos, aliada ao excesso de informações negativas sobre um inimigo invisível, a covid19, e o risco de adoecimento grave e morte.
Minha saúde mental está sendo afetada pelo isolamento e pelo medo do novo
coronavírus. O que devo fazer?
Diversas organizações internacionais, como a Associação Americana de Psiquiatria e Associação
Americana de Psicologia, vêm alertando para o fato de que além do risco à saúde da covid-19, outra
epidemia está seguindo em paralelo: o comprometimento da saúde mental de pessoas em isolamento
social e que estão sendo expostas ao excesso de informação, muitas vezes fake news, relacionadas à
doença. Para evitar os problemas, mantenha um estilo de vida saudável, tenha uma dieta equilibrada,
pratique atividades físicas, tente dormir bem, mantenha contato com as pessoas que você ama
utilizando as tecnologias disponíveis e evite o consumo de álcool e drogas. Também tente se lembrar
como superou dificuldades no passado e use as habilidades que aprendeu para gerenciar suas emoções
durante a pandemia.
Comecei a sentir falta de ar. Por que isso está acontecendo?
A falta de ar pode ser uma queixa comum aos transtornos de ansiedade e outros problemas médicos.
Com o excesso de notícias sobre a ameaça da doença, pessoas vulneráveis à ansiedade podem perceber
uma alteração da respiração, causada pela tensão muscular e alteração do ritmo respiratório.
Quem faz uso de antidepressivos, medicamentos para ansiedade ou para algum outro
transtorno psicológico pode reduzir as doses ou aumentar durante o período? O
tratamento pode ser interrompido?
Os pacientes devem continuar o tratamento conforme a prescrição médica e não fazer nenhuma
alteração. Caso seu estado emocional tenha algum agravamento mais severo, é importante consultar o
especialista que acompanha o caso para verificar a possibilidade de ajuste na medicação. Isso pode
levar a sérias consequências para a saúde da pessoa.
Estou com dificuldade de cuidar de mim durante o isolamento. O que devo fazer?
As pessoas estão vivendo o desafio de cuidar dos idosos, das crianças, do trabalho, das tarefas
domésticas, mas não podem se esquecer do autocuidado. Todos precisam de um tempo para cuidar das
próprias necessidades, do corpo e da mente. Ao fazer uma atividade voltada para você, faça com
atenção e tente aproveitar aquele momento. Pode ser um banho, uma refeição ou assistir a um filme. O
importante é ter foco no que é importante para você. Separe momentos para viver esse tipo de
experiência.
Como lidar com pessoas que têm claustrofobia?
Para os que possuem claustrofobia, primeiro é interessante que fique com algum familiar que possa
ajudar caso ocorra uma crise.
Conversar sobre o que acalma já é uma dica para quem o acompanha.
Há diversos recursos para trabalhar a fobia, como exercícios de respiração, meditação, de visualização
ou de mindfulness.
No entanto, se a pessoa nunca realizou nenhum desses exercícios é interessante que os experimente
antes de ter as crises. Buscar grupos de apoio online também é uma possibilidade. A ideia é que a
pessoa já comece a praticar para que, no momento de crise, consiga se beneficiar destes recursos. A
tecnologia também pode ser importante aliada neste momento, com os tours virtuais em parques,
praias e bosques. Lembrando que todas as técnicas devem ser vivenciadas e experimentadas quando a
pessoa não está em crise. Tentar utilizar um recurso novo no meio de uma situação estressante pode
piorar o quadro.
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No apartamento, é importante manter janelas abertas para o fluxo do ar, se há uma parte da casa que
pega mais sol, é importante deixá-la livre de móveis para que seja um espaço de refúgio. Pode-se
colocar uma poltrona, por exemplo. É interessante ainda reorganizar os móveis e objetos da casa para
que ela fique maior, guardar o que for mais escuro, como objetos, cortinas, roupa de cama ou de mesa
para deixar o mais claro e amplo possível o espaço.
Selecionar músicas que acalmem. Se possível, trabalhar com aromas que tragam tranquilidade, como
lavanda, capim limão, camomila, ou seja, recursos de aromaterapia podem ser um caminho. Até mesmo
um chá já pode perfumar a casa ou ser utilizado no banho para aumentar a sensação de bem estar.
A pessoa pode fazer uma lista de tarefas ou ocupações e, quando se sentir ocioso, recorrer a ela para
preencher o tempo livre. A ociosidade só é bem vinda quando proposital para descanso e relaxamento.
O contato com a natureza, como montar uma horta vertical ou ter contato com animais de estimação,
também podem reduzir o quadro de ansiedade, que é um precursor da claustrofobia. Se a pessoa mora
em apartamento, a recomendação é checar a possibilidade de ficar na casa de um parente que possua
um quintal ou jardim para que ela não se sinta fechada em um ambiente pequeno. O inverso não é
recomendado, ou seja, se mora em uma casa, não vá para um apartamento.
Os idosos já costumam sofrer com a solidão, mas, nesta situação, estão sem a
possibilidade de ver até familiares. Quais são os impactos para eles? Como amenizar a
situação?
É preciso muita sensibilidade aos idosos neste período. O ideal é que a família se organize para que um
membro acompanhe o idoso neste momento, evitando que ele fique só. Isso porque os quadros de
solidão e tristeza intensificam a possibilidade de depressão, comprometendo não apenas a saúde
mental dele, mas a piora da saúde física. Ele pode apresentar problemas no sono e dificuldade na
manutenção das atividades básicas, como se alimentar, se cuidar e, até mesmo, tomar seus
medicamentos.
Identifique o que ele gosta de fazer ou tem interesse e, a partir disso, planeje com ele projetos para a
quarentena: pequenas reformas, customização de roupas, objetos de decoração, cultivo de uma horta
vertical ou utilidades domésticas. A partir daí, crie uma rotina.
Quais são os impactos para quem tem doenças como Alzheimer?
A vida de quem tem doenças como o Alzheimer já é um grande desafio. Depende muito de como é a
rotina desse idoso e como as pessoas que o auxiliam vão dar conta de mantê-la. Isto é, os casos mais
complexos das demências demandam múltiplos cuidadores, pois é um idoso que precisa de assistência
24 horas. Então, ele pode estar acostumado a estar na companhia destas pessoas. Quebrar a
familiaridade que ele possui com os cuidadores e sua rotina podem intensificar os sintomas de
demências, mas a forma de estabelecer como os cuidados serão realizados durante a pandemia vão
depender de um acordo entre os cuidadores e a família.
Quais são os impactos do isolamento para a saúde emocional das crianças? Como ajudá-las?
Criança também é um capítulo à parte por terem muita energia. As necessidades dela também irão para
além do esperado para a família. Não dá para falar da criança sem falar primeiro da organização da
rotina da família. Muitas famílias em isolamento estão fazendo trabalho remoto e a criança,
dependendo da idade, tem dificuldade para compreender a "presença-não-presença" dos pais em casa,
então, ela quer brincar e interagir com a família, já que não pode sair. Todo este estado de tensão pode
gerar maior irritabilidade e agressividade nos pais e na criança. A acolhida, o diálogo e a rotina é a
tríade que compõe o manual de sobrevivência ao isolamento em todas as faixas etárias. Quanto mais os
pais obedecerem seus horários de pausa do trabalho, como a entrada, o almoço e a saída, menos
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impactos gerará no convívio familiar. A família que se ajuda no rodízio de funções domésticas garante
mais tempo para dar atenção às crianças.
Quais são as orientações para os pais de crianças com transtornos, como autismo, ou que
já apresentam quadros de ansiedade?
A primeira preocupação talvez seja em como comunicar o que está acontecendo para as crianças. As
pessoas com autismo podem apresentar dificuldade em lidar com situações hipotéticas. Nesse momento
de pandemia, os noticiários destacam muito os números de mortes e infectados pela doença, e isso pode
causar pânico nestas crianças, a ponto de não se sentirem mais seguras e com medo da perda de entes
queridos que ofertam sensação de cuidado e segurança para elas.
Evitar deixar a televisão sempre ligada neste momento pode ser uma importante saída para amenizar a
ansiedade que isto pode trazer. Acima de tudo, é fundamental seguir as recomendações da equipe que
acompanha a criança, seja psicólogo, terapeuta ocupacional ou pediatra. Este não é um momento de
romper com tratamentos e terapias. É necessário que a família mantenha contato com a equipe e
adapte as intervenções.
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