Escola e família têm papel fundamental no
tratamento
Terapias equilibram Déficit de Atenção e
Hiperatividade
Por Elen Valereto
DiarioWeb / Diário da Região
São José do Rio Preto - SP, 15/11/2012
A fase da infância é marcada pelas brincadeiras
e o início da inserção em círculos de amizades. O que chama atenção, no entanto,
pode ser um excesso de energia, impulsividade e, ao mesmo tempo, desatenção da
criança. Essas descrições gerais são atribuídas para um transtorno
neurobiológico conhecido como TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade. O problema geralmente é hereditário e, conforme estudos mais
recentes, não tem cura, embora possa ter seus sinais menos acentuados durante
outras fases da vida.
Para melhorar a qualidade de vida da criança com
TDAH no período mais acentuado, os tratamentos envolvem medicamentos prescritos
por orientação médica após o diagnóstico. Entre eles estão estimulantes,
não-estimulantes e até antidepressivos, sendo o primeiro e mais eficaz na
maioria dos casos.
Quando não há o tratamento já na infância ou ele não
está adequado ao quadro, a vida dessa pessoa com TDAH pode ser marcada por
dificuldades escolares, em relacionamentos social e amoroso e complicações
profissionais. Como consequência desses problemas, é desenvolvida baixa
autoestima e maior propensão ao abuso de álcool e uso de drogas. Segundo o
psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, coordenador do Programa de Avaliação
do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, para ampliar os
cuidados a quem tem TDAH também estão sendo aprovados tratamentos
não-farmacológicos.
Entre esses tratamentos estão a terapia
cognitivo-comportamental e o neurofeedback, que ajudam a desenvolver e treinar
novos padrões de comportamento e até com uso de sensores e jogos
eletrônicos.Recentemente, uma pesquisa da Michigan State University, publicada
no Journal of Pediatrics, observou que o estímulo diário de pelo menos 20
minutos de exercício aeróbio com crianças ajuda a melhorar a performance
cognitiva de diagnosticados com déficit de atenção e hiperatividade.
A
psicóloga clínica Miriam Barros, que atua há 15 anos na área de transtornos do
humor, distúrbios comportamentais e relacionamentos familiares, acrescenta que a
criança deve ser acompanhada por psiquiatra infantil e psicólogo, além de
terapia e medicamento. “O medicamento age diretamente na química cerebral e a
psicoterapia ajuda a criança ou adolescente a lidar melhor com os sintomas e
melhorar a autoestima, que normalmente fica bastante prejudicada.”
Participação familiar
A psicóloga Miriam Barros explica
que as pessoas que apresentam TDAH nascem com um funcionamento diferente em uma
determinada área do cérebro, o córtex pré-frontal. É essa região que gera os
problemas em relação à concentração, atenção, impulsividade e hiperatividade.
“Os sinais começam a aparecer normalmente na fase escolar, quando a criança é
mais exigida com relação a atenção e comportamento. Mas é preciso cuidado ao
fazer o diagnóstico, pois os sinais são apresentados por crianças que também não
têm o distúrbio, só que em proporção menor, enquanto no TDHA são mais
exagerados”, diz a psicóloga.
Por isso é fundamental o envolvimento da
família para acompanhar o tratamento escolhido e a evolução da criança na
infância e na transição de outras fases. “Os pais são fonte de segurança e
disciplina para os filhos, e as crianças se desenvolvem mais plenamente em um
ambiente afetuoso e equilibrado emocionalmente”, afirma o psicólogo Armando
Ribeiro das Neves Neto, de São Paulo.
A psicóloga Miriam complementa que
os pais devem oferecer todo o apoio e tomar cuidado com as críticas. Isso porque
muitas cobranças feitas são incompatíveis com os retornos para o quadro. “A
informação é fundamental. Tanto pais quanto escola devem procurar saber tudo
sobre TDHA. A escola deve oferecer orientação aos professores para que saibam
agir adequadamente em sala de aula, não apenas com esse distúrbio, mas com
outros também”, diz.
Terapias ganham espaço no tratamento
O psicólogo Armando
Ribeiro das Neves Neto, de São Paulo, dá mais explicações a respeito do
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Diário da Região – Quais são as principais características
de crianças com TDAH?
Armando Ribeiro das Neves Neto – Para o
diagnóstico clínico de TDAH, o médico e/ou psicólogo clínico se baseiam em
critérios diagnósticos internacionalmente validados pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e Associação Americana de Psiquiatria (AAP). Hoje, existe uma
bateria de testes neuropsicológicos aplicados por psicólogos especialistas em
neuropsicologia, que ajudam a fundamentar o diagnóstico clínico e posterior
tratamento. Os principais sintomas sas queixas de desatenção, hiperatividade e
impulsividade. Entre esses três sinais estão os erros por descuidos, negações em
realizar atividades que exijam esforço mental, a perda de objetos, esquecimento
e distração, agitação física frequente, inquietação, dificuldade para brincar e
aguardar pela sua vez, respostas precipitadas e intromissões.
Diário – Quais os benefícios de atividades físicas nesses casos?
Neves Neto – Alguns estudiosos apostam na indução de
neuroplasticidade, no aumento de volume cerebral, na região do cíngulo anterior,
uma área responsável por boa parte dos sintomas do TDAH. Além de auxiliar no
desenvolvimento saudável do cérebro, a atividade física estimula a
sociabilidade, a compreensão de regras sociais, a convivência em equipe e pode
ajudar na escolha de alimentos mais saudáveis.
Diário – Que
tratamentos são mais indicados hoje?
Neves Neto – Além dos
tratamentos farmacológicos prescritos por orientação médica, cada vez mais
tratamentos não-farmacológicos vêm sendo aprovados para os portadores do TDAH,
como a terapia cognitivo-comportamental.