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TÁ DOMINADO - Revista Bem-Estar


Tá dominado
Aprenda a gerenciar seu estresse, entendendo que nem todo mecanismo que funciona para alguns é o mais adequado para você. Ações simples e prazerosas são às vezes o melhor caminho.

Por Jéssica Reis
Diário da Região - Revista Bem-Estar
São José do Rio Preto, 08 de maio de 2011.

Muitos podem sentir-se melhor após meditar; outros, por incrível que pareça, podem até ficar mais irritados. Existem aqueles que acreditam que a organização é fundamental para ficar livre do estresse – mas se algo foge do seu “script”, toda calmaria vai embora. E há ainda os que, apenas papeando com um amigo, já se sentem aliviados.

É por isso que nem sempre os tradicionais mecanismos de redução do estresse funcionam. Há situações e pessoas, cada uma consegue gerenciar o estresse de maneira diferente e nem sempre o que resolve para uma pode ajudar a outra.
“Para lidar com o estresse, é necessário uma combinação de diversos fatores, e é preciso prestar atenção àquilo que dá prazer e satisfação, pois o que funciona para um pode não funcionar para o outro. Portanto, é bom que se tenha algum conhecimento sobre si mesmo”, afirma a psicóloga Gisele Lelis Vilela de Oliveira, de Rio Preto.

Não é só meditar
Segundo o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, consultor em gestão do estresse e professor de aprimoramento em terapia cognitivo-comportamental da USP, existem vários mitos relacionados à meditação. Embora seja uma das atividades mais utilizadas para reduzir o estresse, ainda tem associação esotérica, mística e religiosa. “O efeito da meditação é somente alcançado com a prática regular, portanto, se a pessoa não adere à prática da meditação, pode experimentar alguns exercícios de respiração diafragmática, relaxamento muscular, caminhada e alimentação equilibrada”, explica.
Elko Perissinotti, psiquiatra e vice-diretor do Hospital-Dia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP, diz que a meditação não é a única solução, embora possa ser muito útil. “Em medicina, recomendamos a meditação científica (mindfulness), portanto, sem vinculação religiosa. Isso protege nossas glândulas supra-renais (a glândula do estresse), promovendo melhor equilíbrio na produção de glicocorticoides e catecolaminas, o que poupa nosso organismo de sobrecargas hormonais disfuncionais em áreas neurológicas, mentais (psicológicas), endócrinas e imunológicas”, afirma.
Embora a meditação possa trazer todos esses benefícios, pode não ajudar a todas as pessoas, por isso Gisele indica outras atividades relaxantes. “A pessoa deve buscar algo que lhe dê prazer. Se fizer algo de que não gosta, não vai minimizar os efeitos do estresse e ainda corre o risco de ficar ainda mais estressada. A ideia é tentar simplificar a vida e não deixá-la ainda mais complicada com atividades nas quais não tem prazer em fazer. Qualquer atividade que possa ser relaxante e que a pessoa sinta-se bem ao realizá-la pode minimizar os efeitos do estresse no dia a dia”, diz a psicóloga. Armando Ribeiro das Neves Neto afirma que o ideal para o gerenciamento do estresse é uma combinação da avaliação diagnóstica, com terapia cognitivo-comportamental e mudança do estilo de vida. A meditação é mais uma estratégia que pode ser usada, mas que também depende do perfil de cada um. Outra recomendação do especialista é o biofeedback, um equipamento que registra os sinais do corpo relacionados ao estresse, como batimentos cardíacos e respiração.

Desabafe 
Compartilhar seus problemas com alguém próximo como um amigo também pode ajudar. Mas cuidado, nem todo mundo está preparado para ouvir os “problemas” alheios sem expressar uma opinião que possa piorar ainda mais a situação.
Perissinotti diz que é sempre bom falarmos, mas lembra que o que ainda não foi dito, por exemplo, remorsos, é responsável por quase todos os males e estresse.
“Não tendo com quem falar, vá a um psicoterapeuta indicado por uma pessoa de confiança. Não hesite em chorar, espernear ou gritar. Retire os grilhões de seus demônios (raiva, inveja, ciúme) interiores”, recomenda. O psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto diz que contar os problemas, em geral, é um “santo remédio”, mas alerta que isso pode trazer efeitos colaterais, por exemplo, se o ouvinte for mais estressado que a pessoa que quer compartilhar os problemas ou não souber lidar com a situação de forma serena. “Ter um amigo para conversar é excelente, mas não transforme o seu amigo, pai, irmão, namorada ou esposa em seu terapeuta. Isso pode estragar a relação”, alerta.

Família
Ter uma boa estrutura familiar pode ajudar a reduzir a inquietação excessiva causada pelo estresse. Para a psicóloga Gisele, “momentos de estresse sempre farão parte da nossa vida, o importante é buscar autoconhecimento para lidar com essas situações e evitar que o organismo entre em conflito.”
Um bom aparato familiar pode auxiliar na redução da inquietação à medida em que não complementa essa inquietação, em que auxilia na obtenção de recursos que possam ajudar o indivíduo em momentos de maior dificuldade. “É importante que cada pessoa busque, por meio de terapias, conhecer-se melhor, buscar equilíbrio para essas situações”, afirma.
O psiquiatra Perissinotti complementa dizendo que o amor da família é uma verdadeira vacina, não só para o estresse, mas também para prevenção de drogas, síndrome do pânico e psicoses.
Gisele explica que os animais de estimação também auxiliam no gerenciamento do estresse, mas desde que a pessoa goste de bichos, pois os animais oferecem distração, um momento prazeroso em que a pessoa passa junto de seu bichinho de estimação.

Repouso
Chega a hora de dormir e no pensamento surgem os problemas que precisam ser resolvidos no dia seguinte.
Ficar remoendo esses pensamentos não vai resolver nada, afinal, se os problemas são para o dia seguinte, é preciso saber relaxar para ter uma boa noite de sono.
Segundo Armando Ribeiro das Neves Neto, as preocupações atrapalham muito a qualidade do sono, podendo até impedi-lo. “Não devemos esquecer que as preocupações são também sentidas pelo nosso corpo por meio dos neurotransmissores cerebrais e hormônios.” Preocupações financeiras, problemas no relacionamento e no trabalho aumentam o cortisol e a adrenalina, o que dificulta o relaxamento necessário para uma noite de sono tranquila e regeneradora.
Pessoas muito estressadas têm quantidade e qualidade de sono ruim. “Problemas com o sono estão associados com ganho de peso, diabetes e hipertensão arterial”, explica o consultor em gestão de estresse.
A psicóloga Gisele diz que relaxar depois de um dia tenso é fundamental para uma boanoite de sono e, com isso, descansar para iniciar um novo dia. “Procure finalizar as atividades no trabalho e já organizar o dia seguinte. Ao sair do trabalho, busque atividades prazerosas e que possam auxiliar você a relaxar e mudar o foco.”
A insônia pode ser um desencadeador do estresse e uma boa noite de sono pode ser uma grande aliada no gerenciamento ao estresse”, recomenda.

Organização
A organização é fundamental para que tudo saia do jeito que planejamos, mas, por outro lado, pode também favorecer o estresse, por exemplo, quando algo dá errado durante a execução dos planos. Para Gisele, pessoas com tendência ao perfeccionismo podem apresentar muita dificuldade e nervosismo quando uma situação não sai como planejada e, com isso, gerar uma crise de estresse.
O consultor em gestão de estresse Armando Ribeiro das Neves Neto diz que a disciplina pode ser uma estratégia positiva para a redução do estresse e também um fator causal do mesmo. “Com alguma disciplina, planejamos melhor nosso dia a dia e nossa vida, o que facilita a realização de projetos importantes e atividades no tempo adequado, porém, frequentemente nos frustramos por expectativas não alcançadas. A disciplina pode encobrir uma certa rigidez da personalidade ou insegurança. Alguma disciplina é sempre bem-vinda, mas sem nos tornarmos escravos dela”, afirma.



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