Alta-tensão. Especialistas falam da banalização em torno do estresse, que pode causar doenças físicas e emocionais sérias. Saiba como prevenir e identificar uma situação de risco a tempo.Por Adriana Martins (Jornal A Tribuna / AT Revista, Santos/SP, 2008)
Você sabe o que é o estresse? A pergunta pode parecer absurda em plenos anos 2000, já que se trata de um velho conhecido. Mas, especialistas afirmam que é justamente por parecer algo tão íntimo que houve a banalização do termo. Quem não disse estou estressado pelo menos uma vez nesta semana que atire a primeira pedra. "O estresse está vulgarizado. As pessoas frequentemente o confundem com emoções, como frustração e revolta, mas é a adaptação inconsciente a várias situações do dia-a-dia, sejam elas positivas ou negativas", diz Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR), entidade voltada à pesquisa e desenvolvimento da prevenção e tratamento do estresse no mundo.O site de relacionamentos Orkut traz uma mostra dessa vulgarização. Entre as comunidades, a Eu Tenho Stress Interno (!) reúne inacreditáveis 14 mil membros em torno de uma definição, digamos, imprecisa: “...um sentimento ruim, estranho... sei lá...”. O Estresse me Estressa, com mais de dois mil participantes, é outro exemplo da banalização.Embora não seja uma doença, é um fator de risco importante, relacionado a sete das 10 patologias que mais matam do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E a desinformação só faz com que o problema se agrave.Em suma, o estresse é uma resposta do organismo a muitas situações da vida, que varia de acordo com a percepção de mundo de cada um. “Numa batida de carro, por exemplo. Enquanto uma pessoa pode dar graças a Deus por não ter acontecido nada com ela, para outra o acidente pode representar uma grande perda, ela pode achar que sua vida acabou ali”, destaca Ana Maria.Essa adaptação, inclusive, é fundamental para a sobrevivência, alerta o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, supervisor clínico de terapia cognitiva das universidades de São Paulo (USP) e Federal de São Paulo (UNIFESP). “É o estresse que faz com que tomemos alguma decisão, que lutemos. Ele é um gatilho importante de percepção de ameaça”.O especialista, que mantém uma comunidade séria sobre o assunto no Orkut, Gerenciamento do Estresse, diz, porém, que a exposição excessiva é altamente prejudicial, com reflexos no corpo e na mente. Tanto que, de acordo com a intensidade dos sintomas, é dividido em três fases:Fase de alerta: mãos e pés frios, boca seca, dor no estômago, aumento de sudorese, tensão e dor muscular (na região dos ombros, sobretudo), aperto na mandíbula, ranger os dentes ou roer unhas ou a ponta da caneta, diarréia passageira, insônia, taquicardia, respiração ofegante, hipertensão súbita e passageira, mudança de apetite e entusiamos súbito.Fase de resistência: problemas com a memória, mal-estar generalizado, formigamento das extremidades, sensação de desgaste físico constante, mudança de apetite, aparecimento de problemas dermatológicos, hipertensão arterial, cansaço constante, gastrite prolongada, tontura, sensibilidade emotiva excessiva, obsessão com o agente estressor, irritabilidade excessiva e desejo sexual diminuído.Fase de exaustão: diarréias frequentes, dificuldades sexuais, formigamentos nas extremidades, insônia, tiques nervosos, hipertensão arterial confirmada, problemas dermatológicos prolongados, mudança extrema de apetite, taquicardia, tontura frequente, úlcera, impossibilidade de trabalhar, pesadelos, apatia, cansaço excessivo, irritabilidade, angústia, hipersensibilidade emotiva e perda do senso de humor.De acordo com o psicólogo, na etapa de exaustão corpo e mente adoecem. “Ninguém fica doente na fase aguda do estresse, mas sim quando ele se cronifica. E é claro que pessoas submetidas a uma mesma carga de estresse vão adoecer de formas diferentes, por conta de sua história de vida”.A questão é que o estresse mexe demais com a parte hormonal, principalmente com a adrenalina e o cortisol – conhecido aliás, como o hormônio do estresse. “Quando fica circulante por muito tempo, ele é responsável por danos como envelhecimento precoce, queda da imunidade e aumento da gordura corporal”.Mais uma faseMarilda Lipp, Ph.D em Psicologia e professora da PUC/Campinas, diz que há mais uma etapa, que seria a terceira, chamda de quase-exaustão. “Enquanto a primeira fase é essencial à sobrevivência humana, na segunda a pessoa já precisa unir todas as suas forças para resistir às pressões. No período de quase-exaustão, o sistema imunológico começa a ser afetado e, com a resistência em baixa, dá margem ao surgimento de doenças oportunistas. Além disso, funciona como um gatilho para o aparecimento de patologias genéticas”.Segundo Marilda – que fundou e dirige o Centro Psicológico do Controle do Stress, que hoje conta com 11 unidades espalhadas pelo País - , na quarta fase, “a pessoa perde totalmente a capacidade e a habilidade de lidar com as situações”.Estudo feito pelo laboratório de Psicologia da PUC/Campinas, aplicado no Estado de São Paulo, mostra que 36% da população apresentam sintomas graves de estresse. Marilda afirma que, desse percentual, 1% está em fase de exaustão e 7% de quase-exaustão. “É um número significativo, que mostra que a vida atual exige muito das pessoas. Talvez uma das razões para esse alto índice é que ainda somos um país em desenvolvimento, em transição, que exige de nós uma adaptação constante”.Prevenção sempreE qual é a melhor hora de procurar ajuda? Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor. Em quadros severos, possivelmente a pessoa terá de tomar medicamentos. O acompanhamento psicológico também pode ser necessário.O problema é que muitas vezes a pessoa não se dá conta de que precisa de tratamento. “Muita gente chega em meu consultório e diz que está numa fase tranquila e não acredita que esteja estressado. Só que os efeitos do estresse são cumulativos”, alerta o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto.
Na hora de identificar o problema, costuma-se fazer um levantamento do que aconteceu na vida do paciente no último ano. São levados em conta fatores como casamento, nascimento de um filho, morte de pessoa querida e relações no trabalho, entre outros. “Uma promoção no emprego é algo positivo, certo! Mas também gera estresse por conta do aumento das responsabilidades”.Mudar de atitude é essencial, tanto como medida curativa quanto preventiva. “O estilo de vida saudável promove mais resistência para o organismo lidar com o estresse, sendo que a atividade física é uma ótima forma de canalizar angústias e frustrações”, ressalta Ana Maria Rossi, lembrando que o sono e a alimentação balanceada também são posturas protetoras.Rever e evitar as situações que provocam desgaste também é essencial para manter o equilíbrio. “Não é pedir as contas no emprego. Mas, se não se dá bem com o chefe, por exemplo, tente mudar de setor. O mais importante é saber lidar com o estresse ou buscar opções para não ter que lidar com ele”.Armando Ribeiro reforça que as pessoas cometem erros comuns na busca de soluções. “Apesar de as medidas anti-estresse serem relativamente simples, não basta tomar um sorvete. Pior ainda, beber cerveja, já que o álcool tem efeito sedativo. Mais um engano: os esportes radicais elevam o nível de estresse”.Para o psicólogo, outras atitudes importantes são:Aprenda a respirar: A respiração adequada (chamada de diafragmática, com o abômen subindo e descendo) ajuda a desligar a produção de cortisol.Pratique algum tipo de meditação ou ioga. Essas técnicas protegem do estresse comum, garantindo, até, mais criatividade. “Não precisa ter vida de monge, é só procurar viver em um ambiente saudável”.