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Desconectados – O que desaprendemos nos relacionamentos afetivos com o uso abusivo das redes sociais?

Por Armando Ribeiro das Neves NetoPsicólogo. Especialista em Gestão do Estresse, Bem-Estar e Qualidade de Vida.

“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”, reflete o sociólogo Zygmunt Bauman sobre a inconstância dos nossos dias. Bauman estava equivocado! Na era pós-digital, segundo o especialista em comunicação e inovação Walter Longo, a novidade virou “commodity” e a surpresa lugar-comum, em que o thriller “Nerve: Um jogo sem regras” passa a ser uma possibilidade cada vez maior. Vivemos tempos caórdicos…

Nenhuma outra geração esteve tão conectada e, ao mesmo tempo, tão desorientada quanto ao uso das redes sociais como extensão da vida. Fazer parte das redes sociais não é mais opção, mas condição para ser(?)… Seus bits marcam a sua pegada no mundo digital, mas o “oversharing”(algo como compartilhar demais) pode representar a diminuição do valor das interações reais.

E os relacionamentos? Cada momento mais conectado pode revelar um agravamento do “iDisorder”, ou seja, sintomas emocionais de uma vida cheia de bits e potencialmente vazia de contatos reais. O psicólogo Larry D. Rosen defende que o “iDisorder” pode indicar o uso abusivo de tecnologias conectadas, exacerbando queixas emocionais (ex. estresse, ansiedade, depressão, déficit de atenção, personalidade narcisista e etc.). Centenas de “curtidas” nas redes podem representar muito pouco, ou apenas o resultado de algoritmos que inflam postagens aleatórias para dar a sensação de muita gente quando a festa já esta vazia. O pior é traduzir “curtidas” em sinal de “aprovação” pessoal ou como apoio às ideias ali veiculadas. A autoestima não deve ser resultado do seu desempenho nas redes, mas de quem você é realmente. Hã?

No mundo em que todos têm “seguidores” ou “fãs” – e não apenas as divas e os músicos de sucesso – em que o robô do Facebook não se esquece de perguntar “No que você está pensando?” ou em que temos a possibilidade de conversar (?) com a(o) Siri… Podemos descobrir que vivemos tempos cheios de muito vazio. Cada vez mais pessoas vão aos consultórios de psicoterapeutas (reais ou digitais) em busca de si-mesmos, ou seja, o excesso de vida online pode revelar um offline da sua essência.

A tecnologia é um caminho sem volta, mas cada vez mais se torna fundamental que nos eduquemos para o bom uso desta ferramenta fantástica. É preciso aprender a usá-la, antes que ela nos use! Os primeiros homens, ao se depararem com o fogo, devem ter se queimado…

O engenheiro/guru da Google Chade-Meng Tan afirma: “Procure dentro de si-mesmo. Porque nem todas as respostas se encontram no Google”.

Em nossos tempos, os relacionamentos podem usar da tecnologia para a “… arte do encontro, embora haja tantos desencontros nesta vida”, como já dizia o poeta Vinicius de Moraes. Não podemos negar as redes, mas também não devemos negar a necessidade de amar de verdade. Que os bits sejam apenas o nosso rastro na teia digital, e não o nosso aprisionamento. “Essa coisa de bater foto dizendo que você está ótimo, […] essa necessidade de projetar a autoimagem de feliz nas redes sociais é um dos maiores sinais e sintomas, diria um médico, do estado de infelicidade, de insatisfação, de solidão que as pessoas têm.”, reflete o filósofo Luiz Felipe Pondé. Curtiu?

Fonte: ILUMIDIA

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