O bom da tristeza
A psicologia vem descobrindo que as emoções negativas são tão importantes quanto as positivas para o crescimento humano.
Ninguém quer sentir dor ou medo. No entanto, as duas sensações são necessárias para proteção e sobrevivência. O mesmo acontece com a tristeza. Todo mundo quer ser alegre. No entanto, a infelicidade também tem seu papel. As últimas pesquisas da psicologia evolutiva, ramo da psicologia que busca compreender o comportamento humano como resultado da evolução das espécies, revelaram que as emoções existem para mover as pessoas em direção a comportamentos que aumentam sua chance de sobrevivência.
Desta maneira, as emoções negativas seriam tão importantes quanto as emoções positivas. O psicólogo Armando Ribeiro afirma que a filosofia chinesa já utiliza há milênios o conceito do yin-yang, ou seja, opostos que se complementam. A base da medicina tradicional chinesa (e da acupuntura, por exemplo) é de que as doenças são desequilíbrios entre as energias opostas. A psicologia vem redescobrindo a função das emoções negativas como fundamentais para a paleta de cores da existência humana.
“Não devemos mais desejar eliminar as emoções negativas, mas buscar uma vida em harmonia com a natureza e que acolha o ser humano de forma plena e incondicional. O filme Divertidamente, da Disney, é um bom exemplo do emprego das modernas teorias da psicologia e da neurociência sobre as emoções. As emoções primárias, como alegria, medo, raiva, nojo e tristeza, são fundamentais para uma experiência de vida plena.”
Um alerta da psicóloga Aline Melo é que hoje as pessoas vivem em uma cultura segundo a qual o ser humano precisa demonstrar alegria constantemente. “Quanto mais alegre a foto postada nas redes sociais, maiores as chances de receber curtidas e aumentar a popularidade”, argumenta. Porém, a tristeza tem seu papel na vida de todo indivíduo e precisa ser respeitada e vivida como qualquer outro sentimento. “Claro que uma tristeza longa e persistente pode apresentar indícios de uma depressão e precisa ser vista com maior atenção e cuidado”, pondera.
A especialista explica que as tristezas recorrentes do dia a dia não precisam ser encaradas de maneira patológica e, sim, de forma a aprender com o que ela demonstra. “Desapontamentos, frustrações e angústias fortalecem o sentimento da tristeza e podem estar demonstrando ao indivíduo falhas ou pontos a melhorar que talvez a alegria e o estado constante de felicidade não proporcionariam. Compreender a tristeza e aprender com ela pode ser uma porta direta para momentos de alegria e satisfação posteriores.”
A importância da noite
A lua e as estrelas, por exemplo, só podem ser vistas durante a noite. É na noite também que o trânsito fica mais tranquilo, as pessoas descansam depois de um dia estressante no trabalho e dormem para recarregar a energia por meio de uma boa noite de sono. A psicóloga Aline Melo destaca que dormir bem pode melhorar a memória, a ansiedade, a concentração, o humor e o raciocínio, fazendo com que, no dia seguinte, a pessoa consiga ter mais clareza no enfrentamento de seus problemas diários.
Durante o dia, com a correria da rotina, as pessoas não têm tempo para avaliar algumas situações. Já à noite, em sua casa, elas podem enxergar as mesmas questões com outros contornos. “Após sairmos de uma situação estressante e nos afastarmos dela, nem que seja por poucos momentos, conseguimos aliviar um pouco o estresse causado e muitas vezes verificar novos ângulos deste problema. O ambiente domiciliar já oferece este acolhimento e a pessoa pode se sentir mais relaxada e disposta a encontrar novas soluções para uma determinada situação”, explica Aline.
O psicólogo Armando Ribeiro afirma que a noite não é apenas ausência de luz – pode se referir a um estado de espírito ou da mente. “Podemos viver várias noites, mesmo em dias claros, mas é preciso aprender a separar a escuridão que fortalece daquela que empobrece a vida. Quando ensino aos meus pacientes técnicas de relaxamento e/ou meditação, estou conduzindo-os ao anoitecer do espírito. Muitas vezes, é preciso fechar os olhos para se enxergar melhor em um mundo caótico de estímulos.”
ENTENDA MELHOR
A tristeza e a alegria trabalham juntas na evolução e satisfação do indivíduo. Aprender a lidar com os momentos negativos, além de nos fazer valorizar e aproveitar melhor os momentos bons, também pode ser oportunidade de crescimento.
A possibilidade das pessoas enfrentarem de forma saudável sua solidão, de lidar com as angústias e aprender com elas pode ser um método de aprendizagem e autoconhecimento. Atualmente, as pessoas têm inúmeros meios de comunicação que a impedem de enfrentar a solidão, e isso pode gerar pessoas distantes entre si, sem se conhecerem de verdade. Fonte: Aline Melo, psicóloga do São Cristóvão Saúde
Fonte: Por Francine Moreno para o jornal Diário da Região
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