Terapias Complementares em Psicologia
Por Prof. Armando Ribeiro para REDEPSI
O nosso objetivo é apresentar um resumo das terapias, baseadas em postura ética, evidências científicas e visão integrativa, sobre a associação de recursos convencionais e complementares, tais como: terapias cognitivas e comportamentais, acupuntura e auriculoterapia, biofeedback, meditação e hipnose, entre outros, que são alvos de estudos e práticas do Prof. Armando Ribeiro das Neves Neto.
Cresce o número de pessoas no mundo que estão buscando terapias complementares, cientificamente embasadas, e que possam ser associadas à psicologia e medicina convencional. Segundo dados da revista médica British Medical Journal (2000) diversos países desenvolvidos se destacam pelo uso de terapias complementares, tais como: Alemanha, França, Canadá, Austrália e Estados Unidos. Uma pesquisa realizada pelo Centers of Disease Control and Prevention dos EUA (2004), concluem que cerca de 40% da população adulta norte-americana afirmou ter procurado terapias complementares para o tratamento de doenças comuns, como: depressão, ansiedade, estresse, dor crônica, síndrome do intestino irritável e etc.
Segundo o National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) do National Institute of Health dos EUA as terapias complementares são utilizadas em combinação com as práticas convencionais por diferentes motivos, sendo: (a) sinergia entre técnicas convencionais e complementares, (b) desejo de experimentar técnicas complementares, (c) quando as técnicas convencionais não ajudaram, (d) por indicação de profissional da saúde convencional, (e) altos custos do tratamento convencional. Ainda conforme o relatório do NCCAM as condições de saúde que mais estão associadas ao uso das técnicas complementares são: dor crônica, artrite reumatóide, ansiedade, depressão, queixas gástricas, cefaléias e insônia.
É importante destacar que na direção do National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) do National Institute of Health dos EUA, a psicóloga Margaret Chesney, Ph.D. ocupa um importante cargo responsável pela Division of Extramural Research and Training. Ela já ocupou a presidência das seguintes associações: Academy of Behavioral Medicine Research, American Psychosomatic Research e da Division of Health Psychology of the American Psychological Association. Seu foco principal é a relação entre o comportamento e as doenças crônicas, e o desenvolvimento de tratamentos psicológicos para problemas de saúde (ex. saúde da mulher, doença cardiovascular e HIV).
Diversos centros clínicos e de pesquisa ao redor do mundo adotam as principais Terapias Complementares como parte do tratamento aos seus pacientes, gostariamos de destacar os principais: Mind-Body Medical Institute of New Enlgand Deaconess Hospital and Harvard Medical School, Integrative Medicine of Arizona University, Center for Integrative Medicine of University Pittsburgh, Mayo Clinic, Center for Mindfullness University of Massachussets, entre outros. Também destacamos: Seção de Medicina Tradicional da Organização Mundial da Saúde, National Center for Complementary and Alternative Medicine (NCCAM) do National Institute of Health dos EUA, Cochrane Colaboration e etc. No Brasil, destacamos o pioneirismo da Unidade de Medicina Comportamental do departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, sob coordenação do psicólogo Prof. Dr. José Roberto Leite. No Setor de Psicologia da Saúde do Instituto Neurológico do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, em 2002, o psicólogo Prof. Armando Ribeiro das Neves Neto implantou um atendimento baseado em Terapia Comportamental Cognitiva e terapias complementares, sendo estas: acupuntura, biofeedback, hipnose e meditação, para os principais quadros psiquiátricos e doenças neurológicas.
Diversos pesquisadores investigam a relação entre o custo x benefício das principais Terapias Complementares que já demonstraram eficácia e segurança. Herman et al. (2005) encontraram algumas situações em que as terapias complementares são mais baratas e tão eficientes quanto os procedimentos convencionais, entre eles destacam-se: acupuntura para migranea, terapia manual para dor cervical, gerenciamento do estresse para pacientes com câncer submetidos à quimioterapia, biofeedback para o tratamento de doenças funcionais (ex. síndrome do intestino irritável), imaginação guiada e dieta para pacientes cardíacos, entre outros.
No Brasil o Ministério da Saúde cria a Portaria Nº 971 (03/05/2006) sobre a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS) que legitima o papel das Terapias Complementares no tratamento da saúde, baseando-se principalmente em relatórios da Organização Mundial da Saúde sobre a Importância destas práticas nos países membros. Inicialmente a portaria 971 enfatiza o uso: Medicina Tradicional Chinesa / Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, Termalismo e Crioterapia.
É fundamental salientarmos que das diversas técnicas complementares conhecidas, algumas já são aprovadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como a Hipnose (Resolução Nº 013/2000) e a Acupuntura (Resolução Nº 005/2002), sendo que outras técnicas são reconhecidas por centros internacionais de pesquisa e assistência, universidades, fazendo parte de protocolos de pesquisa científica, como: biofeedback, exercícios de respiração, técnicas expressivas, arte-terapia, terapias corporais, imaginação guiada, meditação, relaxamento muscular progressivo, relaxamento autógeno, entre muitas outras. O CFP também orienta com relação a pesquisa de novas práticas terapêuticas, através do Fórum de Práticas Alternativas, realizado em Brasília no período de 27 a 29 de junho de 1997 (Resolução Nº 011/1997).
Nosso trabalho consiste em pesquisar e aplicar as possibilidades de associação entre abordagens psicoterapêuticas convencionais (Terapias Comportamentais e Cognitivas) e as terapias complementares (ex. acupuntura, hipnose, biofeedback, meditação e etc.) visando potencializar os recursos naturais de cura do próprio indivíduo (VIS MEDICATRIX NATURAE), identificando e tratando à causa (TOLLE CAUSAM), não prejudicando e/ou agravando os recursos naturais existentes (PRIMUM NO NOCERE), visando a pessoa como um todo (HOLISMO), através de um relacionamento terapêutico colaborativo, que estimule a participação ativa do terapeuta – paciente, sendo o terapeuta visto mais como um instrutor (coaching) que orienta, dá força e motiva o paciente a assumir uma responsabilidade maior por sua saúde e estilo de vida, além de enfatizar a prevenção da saúde e bem-estar.
CURIOSIDADE: A palavra Psicologia no ocidente se refere principalmente ao estudo do comportamento e da mente, enquanto o termo oriental (Xin Li) se refere ao princípio ou razão do coração. Procuramos integrar estes dois profundos sentidos em nossas pesquisas e práticas, ou seja, usar a razão e a emoção como instrumentos de conscientização e cura.
Aliando o melhor conhecimento ocidental sobre os aspectos biopsicossociais da saúde e adoecimento as tradições de cura, percebemos um novo e amplo significado para o papel do terapeuta, do paciente e do seu processo de tratamento. Como todo sofrimento físico pode ser representado através de vivências emocionais, acreditamos que a melhor terapia deve ser baseada em um modelo abrangente que envolva aspectos somáticos, psíquicos e transpessoais. Dentre as várias fundamentações filosóficas destacamos a Psicologia Integral como proposta pelo filósofo norte-americano Ken Wilber, em síntese, "A meta de uma 'Psicologia Integral' é levar em conta e abarcar todos os aspectos legítimos da consciência humana" (2000).
Uma imagem que ilustra a busca atual da síntese entre os tratamentos convencionais e complementares, é a do monge praticante de meditação sendo submetido ao um exame de ressonância magnética funcional, para que possamos cada vez mais compreender e aplicar em termos científicos o que as tradições de cura já sabiam e empregavam a milhares de anos
"Descobri que nenhuma força curativa é mais impressionante ou mais universalmente acessível do que o poder do indivíduo de cuidar de si e de se curar." Dr. Herbert Benson (Harvard University).
"Sua mente pode eliciar uma resposta de cura (healing) quando a medicina convencional se mostrou ineficaz." Dr. Andrew Weil (Univesity of Arizona).
O Prof. Armando Ribeiro é psicólogo, especialista em Medicina Integrativa da 1a. turma do curso de pós-graduação em Bases da Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein, formado no programa de capacitação em Gestão de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde pelo Ministério da Saúde / Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS e "Integrative Mental Health" pelo Arizona Center for Integrative Medicine da The University of Arizona (EUA). Coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital São José / Beneficência Portuguesa de São Paulo.