Folha Universal
As causas da Síndrome do Intestino Irritável (SII) ou Síndrome do Cólon Irritável (SCI), como preferem chamar os especialistas, ainda não são bem conhecidas. Sabe-se ao certo que ela, além de provocar um sério desconforto, ainda atinge pessoas de todas as camadas sociais, entre 30 e 50 anos, sendo mais presente entre o sexo feminino. Estatísticas mostram que só nos Estados Unidos e alguns países da Europa, de 10% a 20% dos cidadãos sofrem deste mal. No Brasil, em um população de 181.581.024 pessoas (dados do IBGE/2004) há registros de que pelo menos 10% tenham a síndrome.
Os sintomas normalmente variam com o tempo. A dor, por exemplo, pode ser sentida em vários lugares e até mesmo a aparência das fezes costuma variar de um dia para o outro, ficando amolecidas ou aquosas. O número de evacuações também pode cair abaixo do habitual, chegando em alguns casos a menos de uma vez por semana. Tudo acompanhado de estufamento, períodos de diarréia e constipação, gases e sensação de esvaziamento incompleto após a evacuação.
É comum que as pessoas confundam os sintomas da SII com a existência de outras doenças graves, que também causam dor e mudança no hábito intestinal. Mas, elas são muito mais raras e possuem sinais específicos como sangramento e vômito. Mesmo assim, é grande o número de pessoas que procuram um médico por estarem com medo de ter algo como câncer, colite, úlceras ou AIDS. Na verdade a SII apresenta características claras, de um problema funcional e não de algo mais sério.
O professor de cirurgia do aparelho digestivo e do departamento de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), doutor Bruno Zilberstein, diz que este tipo de desarranjo tem como base principal os fatores de ordem emocional. Segundo ele, este quadro clínico surge em virtude de uma somatização de fatores, que provocam uma transferência de emoções para o intestino grosso, ocasionando uma contração muito forte.
O diagnóstico, como explica Zilberstein, é feito por exclusão, ou seja, através de exames para se comprovar a não existência de tumores e outras anomalias de fundo orgânico, como a diverticulite. Ele acrescenta que feito isto, a melhor maneira de diagnosticar a SII é uma radiografia do intestino grosso. No entanto, apesar de uma evolução benigna, a síndrome do intestino irritável, se não for tratada a tempo, pode se agravar.
(...) "O tratamento da Síndrome do Cólon Irritável é multidisciplinar, sendo feito pelo médico, psicólogo, psicanalista ou psiquiatra. Não dá para tratar só com medicamentos, a não ser que se tenha um fundo alérgico como causa", ressalta o gastroenterologista.
No caso de pessoas com SII, o emprego de medicamentos é indicado apenas de acordo com cada caso. Para as dores e distensão abdominais, são utilizados os antiespasmódicos específicos. Duas drogas com estas características são de uso corrente no Brasil: o brometo de pinavério e o cloridrato de mebeverina. Nos pacientes nos quais a constipação predomina, o aumento de fibras na dieta ou o uso de produtos que estimulam as evacuações também são indicados.
Em um recente artigo, o médico assistente do departamento de gastroenterologia da FMUSP, Anderson Damião, afirmou que os pacientes com a síndrome, em geral são ansiosos, tensos, deprimidos e, às vezes, repletos de fobias. Segundo ele, isto denota a importância de que o diagnóstico seja bem explicado. Para o médico, este fator é fundamental para o êxito no tratamento. Ele também ressalta que raramente o psiquiatra precisa ser consultado, mas o encaminhamento a ele não deve ser retardado nos casos indicados.
Psicoterapia como alternativa
O psicoterapeuta Armando Ribeiro das Neves Neto, afirma que todos os pacientes que lhe são encaminhados com sintomas da SII são tratados com psicoterapia. Segundo ele, isto só ocorre quando um médico percebe que o cólon irritável é apenas a reação de um distúrbio emocional qualquer, como depressão ou ansiedade. Armando Ribeiro das Neves Neto acrescenta que a partir daí inicia-se um tratamento padrão, denominado terapia cognitivo-comportamental, que por exemplo, mostra a uma pessoa com dores no abdômen que aquilo não é tão grave quanto ela imagina. Na sequência, também são utilizadas técnicas de relaxamento.
A duração destes tratamentos é variada. Existem casos que podem ser resolvidos com apenas algumas sessões, e outros que se prolongam por um ou até dois anos. "Se for só Síndrome do Cólon Irritável o tratamento é simples, mas é que geralmente atrelado a isto temos um quadro de ansiedade, uma fobia, uma depressão ou outras doenças que também necessitam ser tratadas", diz Armando Ribeiro das Neves Neto.
No entanto, o psicoterapeuta alerta para o fato de que muitas vezes o fator psicológico do paciente nem sempre recebe a atenção devida por parte de alguns especialistas, que preferem não dar importância ao fato. "Eu já tive muitos pacientes com os quais o primeiro passo foi trabalhar com o trauma da consulta médica. Esta síndrome não é grave, não leva à morte, mas o sofrimento é muito grande", diz.
Para finalizar, Armando Ribeiro das Neves Neto destaca que os distúrbios psicológicos para o portador da síndrome do intestino irritável pioram à medida em que ele vê que à doença começa a interferir em coisas simples como ir ao trabalho ou a escola.
(Texto adaptado)