Presenteísmo diminui produtividade de trabalhadores
por Daniela Lessa (Canal RH)
30 de setembro de 2010
O Brasil pode ter perdas de cerca de US$ 42 bilhões por ano por problemas relacionados ao presenteísmo, comportamento em que o profissional comparece à empresa mesmo com suas condições físicas e psíquicas rebaixadas e sua capacidade produtiva reduzida. O estudo é da Internacional Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), que ouviu mil profissionais de 25 a 60 anos de idade, nas cidades de São Paulo e Porto Alegre.
“O problema acontece quando o medo de perder o emprego faz com que a pessoa trabalhe sem condições emocionais e mentais ou insatisfeita e desmotivada para executar suas tarefas; ela está no trabalho, mas não está presente”, afirma Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR e coordenadora da pesquisa.
Segundo a Isma-BR, 89% das pessoas que sofrem desse mal apresentam sintomas físicos como dores musculares, incluindo dor de cabeça; 72% sentem cansaço; 39% sofrem de distúrbio de sono e 28% têm doenças gastrointestinais. O principal objetivo da pesquisa foi avaliar as causas e consequências do estresse, tanto do ponto de vista do profissional, como do ponto de vista da empresa. Nos Estados Unidos as perdas com o presenteísmo chegam a US$ 150 bilhões por ano, segundo Instituto para a Saúde e a Produtividade.
No Brasil, o responsável pela área de saúde corporativa do CPH–Health, Ricardo De Marcchi, informa que 63% dos gastos empresariais com saúde são resultantes do presenteísmo, ainda que este seja um cálculo difícil de se fazer. “O absenteísmo é fácil de medir: se a pessoa faltou um dia e a empresa sabe quanto vale a hora dela, sabe quanto custou a falta e quanto representa aquele dia sem produzir; mas no presenteísmo, a pessoa está no trabalho, apenas não trabalha com toda sua capacidade”, explica.
Segundo De Marcchi, para a empresa evitar esse comportamento entre os funcionários deve buscar um melhor gerenciamento de saúde, com programas educativos e preventivos. “Tem gente que passa um ano sentindo dor de cabeça, mas nunca vai ao médico; a empresa deve incentivar essa pessoa a ir se tratar e permitir que ela falte um dia para resolver o problema de uma vez por todas”, explica e acrescenta: “Um dia de absenteísmo é menos custoso do que vários dias de presenteísmo”.
Desinteressados
De Marcchi lembra que existem dois tipos de presenteísmo. Um é o não desejado, decorrente de doenças e problemas emocionais; outro é o forçado, decorrente da falta de interesse pelo trabalho. “É o funcionário que vai ao trabalho, senta na frente do computador e ficar jogando.”
Atentos a esse profissional desinteressado, Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), e Cláudia Callé, consultora da Ricardo Xavier Recursos Humanos, ressaltam que a causa do presenteísmo não advém, apenas, de problemas de saúde física, mas também de males psíquicos, muitas vezes, decorrentes da má administração do estresse dentro da empresa. “Os gestores precisam compreender a importância das pessoas, entender os limites das equipes, não cobrar além do possível”, alerta Cláudia. Segundo ela, empresas com a cultura organizacional muito rígida estão mais sujeitas ao presenteísmo.
Em concordância com Cláudia, Ogata destaca alguns componentes organizacionais associados ao presenteísmo são o excesso de demandas no trabalho, pressão de tempo, estresse, insegurança no emprego. Ele também comenta que há questões pessoais não relacionadas à saúde que podem favorecer o presenteísmo, tais como dificuldades financeiras, falta de equilíbrio da vida pessoal e profissional, engajamento excessivo com o trabalho, entre outros.
Segundo o consultor em Gerenciamento do Estresse e Qualidade de Vida Armando Ribeiro das Neves Neto, identificar o presenteísmo por meio de um monitoramento constante do RH e de outros setores responsáveis pela qualidade de vida e saúde ocupacional dos colaboradores é uma atitude que a empresa deve adotar. Para ele, é papel dos líderes checarem o grau de satisfação dos seus colaboradores e desenvolverem atividades regulares para aumento da qualidade de vida, redução do estresse, saúde e bem-estar de todos, assim como é papel dos funcionários reivindicarem um ambiente de trabalho mais favorável ao desenvolvimento de suas atividades laborais.
Em relação à rigidez ou maleabilidade das empresas em compreender as faltas de funcionários por motivos de saúde ou emocionais, Ribeiro das Neves afirma que “as empresas compreensivas são as que mais se destacam na avaliação dos seus colaboradores como empresas com excelente clima organizacional e qualidade de vida; esta compreensão é uma estratégia do bem para aumentar o nível de satisfação dos trabalhadores, além de reduzir custos com acidentes no trabalho, diminuir a rotatividade, diminuir gastos desnecessários etc”.
O psicólogo destaca ainda que a ideia que os empregados serão mais faltosos se houver maior compreensão por parte da empresa é falha. “O abuso será uma constatação de que o clima organizacional está com problemas e que medidas educativas e especializadas devem ser tomadas, pois quem faz o que gosta e tem apoio e estímulo da organização não encontra motivos ou justificativas para se afastar do trabalho.”
Como reduzir o presenteísmo
Alberto Ogata, da ABQV, cita sugestões para as empresas combaterem o presenteísmos. Elas foram apresentadas por pesquisadores da Universidade de Michigan:
- Avaliação periódica de saúde e estilo de vida dos funcionários
- Avaliação de indicadores empresariais relacionados à saúde – presenteísmo, absenteísmo, acidentes no trabalho, doenças ocupacionais, custos de assistência médica
- Elaboração de um programa de qualidade de vida que busque o estilo de vida saudável e redução de fatores de risco
- Revisão das políticas internas para apoiar o equilíbrio da vida pessoal e profissional
- Avaliação ergonômica e clima organizacional
- Programas que ajudem os profissionais de baixo risco a permanecerem sadios
- Alinhamentos dos programas de suporte psicossocial e benefício-medicamento com a gestão de saúde e produtividade
Fonte: Canal RH
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