Por Armando Ribeiro das Neves Neto
Fechem os olhos! Neste momento, fiquem plenamente atentos a experiência sensorial da “uva passa” entregue pelo condutor do workshop. Percebam o fluxo dos pensamentos, das emoções e sensações físicas, mas não interfiram na experiência e apenas observem o estado da mente. Esta foi apenas uma das inúmeras vivências do congresso de coaching da Harvard. O condutor era ninguém menos do que o psicólogo e autor do best-seller Inteligência Emocional, dr. Daniel Goleman.
Líderes mundiais, CEO´s, diretores e gestores de RH, psicólogos, administradores, coaches e neurocientistas tomavam o primeiro contato com a prática de “mindfulness” ou “atenção plena”. Aprender mais sobre o funcionamento do cérebro e da mente é parte essencial no mundo do trabalho no século XXI. A gestão do conhecimento se mostra fundamental na sociedade do conhecimento e, com o advento da Inteligência Artificial e do “Big Data”, é preciso preparar de forma inovadora os colaboradores para o novo ambiente de trabalho.
Os temas tradicionais da área de comportamento organizacional e gestão de pessoas, tais como: ética, qualidade de vida no trabalho, inteligência emocional, gestão por competências, tomada de decisões, motivação, comportamento em grupo, comunicação, liderança, negociação, práticas de recursos humanos, entre outros, precisam englobar as mais recentes descobertas sobre o funcionamento do cérebro para acompanhar a transformação do ambiente de trabalho e continuar a serem estratégicas para as organizações do trabalho, bem como para os trabalhadores.
Quando fui professor de Psicologia Aplicada a Administração do INSPER, um dos maiores desafios foi levar aos alunos com um forte viés em pensamento analítico, econometria e ferramental estatístico, denominadas “hard skills” ou “competências cognitivas” voltadas para o mercado financeiro, as novidades das “soft skills” ou “competências socioemocionais”, habilidades para toda a vida. O próprio dr. Goleman, em Harvard, sustenta que “as empresas contratam baseadas no QI (competências cognitivas), mas demitem por falta da IE (competências socioemocionais)”.
É possível melhorar o funcionamento do cérebro para aumentar a produtividade e a competitividade dos trabalhadores e organizações?
Na sociedade do conhecimento, o desenvolvimento das competências cognitivas e socioemocionais se tornarão cada vez mais diferenciais para as empresas que adotarem uma cultura proativa de enriquecimento do ambiente de trabalho. Pesquisadores que conheci em Harvard/MIT já defendem a possibilidade dos trabalhadores “hackearem” o seu próprio cérebro de maneira a aprender melhor e sistemicamente. Dispositivos não-invasivos de “neurofeedback”, “biofeedback”, “neuromodulação” e “realidade virtual/aumentada” já são usados em treinamentos corporativos nos EUA, Europa e Ásia para ampliar a consciência sobre processos inconscientes e/ou involuntários e, assim, estimular intencionalmente a criatividade, o foco, a flexibilidade cognitiva, a resolução de problemas, a gestão do estresse, a resiliência, a empregabilidade, a ergonomia cognitiva etc.
Alguns gestores de RH já se preparam para o novo ambiente de trabalho por meio da contratação de programas voltados para o enriquecimento cognitivo e socioemocional do seu capital humano. Ser inteligente neste novo cenário é “promover níveis mais altos de pensamento e compromisso emocional”. A qualidade do pensamento se torna mais importante do que a mera quantidade, aponta o professor Ed Hess, da Darden School of Business. Seguindo os passos dos inúmeros avanços nos estudos das neurociências cognitivas, observamos uma miríade de novos campos de aplicação do conhecimento sobre o cérebro no contexto do trabalho, com destaque para “neuromarketing”, “neuroeconomia”, “neurobusiness”, “neuromanagement”, “neuroliderança”, “neurocoaching”, “neurohacking” etc. Entretanto, só o tempo ajudará a distinguir entre o conhecimento real e os diversos “neuromitos”. Em um mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), o objetivo “da eficiência fica secundário e a capacidade de adaptação é a única vantagem possível em uma competição”, segundo a professora Amy Edmonton da Harvard Business School.
Armando Ribeiro das Neves Neto
Consultor organizacional. Autor do primeiro artigo sobre Neurociências aplicadas aos negócios no blog da Harvard Business Review Brasil. Contribuiu para artigos sobre Neurociências e Administração na revista Administrador Profissional do CRA-SP. Estudou "Coaching Brain Health" na Harvard. Contato: armandopsico@hotmail.com