Almejar a felicidade é uma
constante à maioria dos seres humanos. É sobre os benefícios que ela traz à
vida das pessoas, que fala o psicólogo e professor Armando Ribeiro das Neves
Neto. Ele é coordenador do Programa de Avaliação do Estresse, do Hospital
Beneficência Portuguesa de São Paulo (SP); professor do Insper (Instituto de
Ensino e Pesquisa) e do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria, do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo);
além de ser um estudioso da Psicologia Positiva e de suas aplicações na saúde,
na educação e nos ambientes corporativos.
Como
você definiria a felicidade?
Não há uma única e precisa
definição. É assunto de filósofos, pensadores, pesquisadores e motivo de
reflexão das pessoas em geral. A Psicologia Positiva é um novo campo de estudo
psicológico que vem encarando o desafio de entender como aumentar a felicidade
(emoções positivas) e o bem-estar em
nossas vidas. Alguns autores preferem descrever a felicidade como o
“florescimento” das virtudes humanas, do bem-viver, uma vida com sentido e
propósito, uma vida que viceja ou floresce.
Como
podemos ser genuinamente felizes?
Os estudos baseados na
Psicologia Positiva apontam que existem três fatores que afetam
consideravelmente nosso grau de felicidade. Sendo eles: 50% genética, 10%
circunstâncias da vida e 40% atividade intencional. São dados da dra. Sonja
Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. O que mais se
destaca é que enquanto não temos autonomia sobre a genética, ou seja, se
herdamos genes felizes de nossos antepassados, ou das circunstâncias felizes
(como, por exemplo, ganhar um prêmio, promoção no trabalho etc.), as atividades
intencionais são totalmente dependentes das escolhas que tomamos no dia a dia.
Portanto, nossa felicidade é resultado do que decidimos pensar, sentir e agir.
Felicidade
é contagiante? Uma pessoa infeliz também contagia as outras?
Enquanto ambientes felizes
“vicejam” em atitudes positivas e de crescimento pessoal, os ambientes tristes,
altamente estressantes e competitivos, geram uma tensão generalizada, capaz de
interferir negativamente na saúde, nas relações e no próprio desempenho do
trabalho.
É
válido o ditado: “Quem pensa positivamente só atrai coisas positivas e quem
pensa negativamente só atrai coisas negativas”?
A Psicologia Positiva vem
defendendo que o bem-estar genuíno, as emoções positivas e a própria felicidade
não são apenas resultados dos pensamentos positivos, mas das emoções positivas
e principalmente das ações positivas. Não basta apenas pensar, sem não agirmos
através de atividades intencionais (lembre-se dos 40%!) capazes de aumentar
nosso estado de felicidade.
Como
as pessoas que sofreram durante a infância podem superar os traumas e ser
felizes hoje?
Às vezes ainda é preciso
buscar tratamentos para curar as dores e cicatrizes de uma infância sofrida. A
psicoterapia tradicional, como terapia cognitivo-comportamental, psicanálise,
entre outras, são formas de tratarmos das dores emocionais do passado e nos
ajustarmos para a vida presente. Mas se buscamos ser felizes, a Psicologia
Positiva diz que precisamos cultivar ações efetivas para aumentar o grau de
felicidade em nossa vida. Não basta remover o negativo, é preciso aumentar as
atitudes positivas.
Quais
os benefícios da felicidade na vida do ser humano?
Pesquisadores da
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, vêm descobrindo que a
felicidade é um dos melhores de saúde, bem-estar nos relacionamentos e na
família, sucesso profissional, promoção na carreira etc. No trabalho, estudos
da Harvard Business School,
do mesmo país, mostram que os colaboradores mais felizes, em média, são 31%
mais produtivos, suas vendas são 37% mais elevadas, e sua criatividade é três
vezes maior.
Aqueles
que depositam a felicidade na estética e no ter podem sofrer problemas futuros?
Segundo os resultados dos
estudos da Psicologia Positiva, a estética e o consumo não são fontes seguras
de felicidade autêntica. O que experimentamos quando investimos na estética ou
no consumo de produtos é uma alegria passageira e que poderá aumentar a
necessidade de consumir novamente recursos para manutenção de uma beleza
idealizada e de um padrão de consumo exacerbado.
Existem
exercícios que possam ser feitos no dia a dia a fim de aumentar o grau de
felicidade?
Existem atividades tais como:
aumentar o florescimento (efeito das emoções positivas sobre a qualidade de
vida e sobre como essas emoções germinam em nossas vidas, aumentando o
bem-estar), por meio do engajamento em atividades significativas, do sentido e
propósito na vida, dos relacionamentos positivos e do sentido de realização, do
cultivo da gratidão e do perdão, experiências de fluxo (estado de fluidez,
vivenciado através de situações ou práticas que representam desafio, mas que
são fontes de crescimento pessoal), práticas meditativas que evolvam atenção
plena, relacionamentos significativos, comunicação positiva, otimismo, cultivo
da espiritualidade e da fé, entre outros.
A
profissão pode ser determinante para a felicidade?
Sim, principalmente se
encontrarmos sentido e propósito, sentimento de realização e de experiência de
fluxo na execução da atividade. A remuneração tem um impacto menor na geração
de felicidade a partir do momento em que ganhamos o suficiente para a
manutenção de um padrão de vida satisfatório. Mais dinheiro pode não trazer
mais felicidade se não tem sentido e propósito alinhados a nossos valores de
vida.
É
possível ser feliz em meio a problemas?
Claro! A felicidade não
deve acontecer na ausência de problemas, isso seria irreal. Ao desenvolver
nossas atitudes positivas, aumentamos nossa capacidade de lidar com os
problemas e sobreviver a eles, o que a psicologia chama de resiliência.
Instituto
Meninos de São Judas Tadeu - Dehonianos
Informativo
Nossa Voz - Ano
8 – Número 54 – Janeiro de 2013Acesse o material no Link