domingo, março 11, 2012

Livre-se da frustração

Presos a emoções negativas, muitos enxergam a realidade pior do que realmente é

Por Francine Moreno

São José do Rio Preto, 11 de Março, 2012 - 1:45
Jornal Diário da Região / DiarioWeb









Muito se fala em ensinar as crianças a lidar com a frustração. Então por que há tantos adultos frustrados? Atualmente, muitos homens e mulheres não aceitam que nem só de momentos prefeitos é feita a rotina. No mercado de trabalho, principalmente, é fácil encontrar frustrados que transformam alguma situação em algo muito pior do que é na realidade. E essas emoções interferem no cotidiano e na convivência com os outros.

Os frustrados têm dificuldade para aceitar que não controlam tudo o que querem, e sua reação, em geral, é negativa, exagerada e, muitas vezes, desproporcional. Irene Araújo Corrêa, psicóloga cognitivo-comportamental, explica que isso acontece porque essas pessoas têm menos autocontrole, principalmente se suas expectativas sobre algo forem altas. “Apresentam muita raiva e sentimentos de fracasso e, durante um tempo, falarão muito sobre o que os incomoda ou se prostrarão.”

Como o frustrado vive contrariado e resmungando, ele pode se tornar uma pessoa que passa a ser evitada e isolada. E esta é apenas uma das consequências ruins. Um estado de frustração crônica pode acabar com casamentos e amizades. “A frustração crônica pode se tornar uma depressão ou quadro de ansiedade”, afirma Armando Ribeiro das Neves Neto, psicólogo e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

De acordo com o psicoterapeuta e professor da Famerp Nelson Iguimar Valério, a melhor maneira para lidar com frustrados é não reagir como eles. “É importante, aos poucos, mostrar quanto suas atitudes são perniciosas. Ou seja, ensinar a arte da tolerância.”

Uma relação harmoniosa com a pessoa frustrada requer paciência e atenção. É preciso, com serenidade e objetividade, ajudá-la a perceber que as frustrações ocorrem e se acumulam porque ela está repetindo fórmulas que não deram certo. “Procure motivá-lo a buscar soluções. Com o tempo, a pessoa poderá mudar sua leitura das situações, eliminando os sofrimentos por antecipação característicos dos frustrados”, afirma Irene.

Causas

Armando Ribeiro das Neves Neto afirma que adultos frustrados são pessoas que não aprenderam a lidar adequadamente com as emoções. Segundo ele, a frustração é uma emoção secundária, uma mistura de raiva, insatisfação, impotência e injustiça. “A reação pode ser voltada para si mesmo, o que resulta no comprometimento da saúde física e emocional.”

Neto afirma que os pais têm papel decisivo nesta condição. “Pais que acreditavam que os seus filhos não deveriam passar vontade de algo podem tê-los ensinado a se comportar como um adulto intolerante à frustração, acarretando grande prejuízo ao seu desenvolvimento.”

Os frustrados, lembra Irene, têm dificuldade de lidar com os problemas porque não aprenderam a criar padrões de enfrentamento que lhes permitissem compreender os limites para suas expectativas. “Se uma pessoa passa repetidas vezes por frustrações e permanece apática, sem reconhecer suas limitações diante da situação, ela cria medos e desconfianças que interferem em decisões futuras.”

O psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto alerta sobre a importância de deixar a frustração de lado e ter inteligência emocional para se manter no mercado de trabalho com chances de promoção. “Ter apenas uma boa formação técnica não é mais o único diferencial, pois ser capaz de se colocar no lugar dos outros nos momentos adversos do trabalho poderá aumentar a coesão grupal e o espírito de liderança.”

Tratamento

Irene afirma que o que deve ser tratado é a maneira de lidar com a frustração. “Modificar padrões de pensamento que não permitem que a pessoa avalie com clareza a situação e suas consequências. É preciso aprender a ver a realidade, avaliar e encontrar caminhos mais saudáveis para buscar mudanças”, diz. Frustração crônica é como um estado de ansiedade ou de depressão, ou seja, precisa de tratamento especializado. “A psicoterapia embasada na terapia cognitivo-comportamental ensina o paciente a identificar as causas da frustração e a modificar os pensamentos e expectativas exagerados. O melhor remédio para se aprender a lidar com a frustração crônica é desenvolver uma percepção mais acurada da vida, diferenciando as necessidades reais dos desejos idealizados”, afirma Neto.

O papel dos pais como reguladores de emoção

A frustração deve ser algo debatido ainda na infância. Os pais são os modelos para aprender a regular os estados emocionais. “É função deles se conscientizarem da importância da harmonia e da necessidade de ter um tempo para brincar com os seus filhos, ao invés de substituírem o tempo com presentes”, afirma Armando Ribeiro das Neves Neto, psicólogo e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Um exemplo comum e errado, segundo ele, são pais brincarem com os filhos e demonstrarem frustração ao perder um jogo.

Irene Araújo Corrêa, psicóloga cognitivo-comportamental, afirma que na infância a criança deve aprender a lidar com os limites, que suas escolhas têm resultado e que, às vezes, não será como ela pensa. “Ao ensinar a criança a enfrentar as situações, ela vai entender que nem tudo será do jeito dela e que algumas coisas ocorrerão diferente do que espera. Também é uma oportunidade para ensinar a ter uma visão mais ampla das coisas, mostrando que há outras possibilidades que ela não está percebendo e pode aproveitar”, diz.

Ganhos

O psicoterapeuta e professor da Famerp Nelson Iguimar Valério afirma que o sentimento de frustração, se não for paralisante, pode servir de motivação e combustível para ações proativas e de sucesso. “O que faz mal é se sentir inundado por esta sensação, sem respostas novas e adequadas ao problema.”




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