segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Imagem de "coitadinho" não ajuda... se não buscar uma solução! A Tribuna

Imagem de "coitadinho" não ajuda... é a minha contribuição para a coluna Vida em dia da jornalista Cláudia Duarte do jornal A Tribuna, em Santos.

Vitimização 
Imagem de “coitadinho” não ajuda em nada, se não buscar uma solução! 

Sabe aquela pessoa que acredita que o mundo é injusto, que é o único alvo de toda e qualquer adversidade? Certamente você lembra de alguém que gosta de “comover” ou que atribui todos os seus fracassos a falta de colaboração e compreensão dos outros. Aí vem a minha pergunta: “Isso pode virar doença?”. Segundo o psicólogo Armando Ribeiro, a vitimização frequentemente já pode ser um sinal de que a pessoa adoeceu. “Algumas pessoas realmente acreditam que são vítimas do mundo. E quem vive se sentindo assim, pode ter aprendido desde pequeno que toda a culpa por aquilo que nos aflige vem de fora e que não pode se responsabilizar por nada. No entanto, quem carrega o peso da vitimização dificilmente aprende e cresce com as dificuldades. Muito pelo contrário: sofre de estresse crônico e não cultiva a resiliência para uma vida melhor”. Então, ao contrário de conquistar a atenção e o cuidado das pessoas ao redor, quem se identifica com o papel de vítima frequentemente perde o controle da própria vida. “Ele acredita profundamente que as situações boas ou ruins não são resultados das suas próprias atitudes. Existe uma cultura disseminada de culpar sempre o outro por aquilo que acontece com cada um de nós, mas é preciso refletir se não temos responsabilidades por aquilo que de fato aconteceu”, alerta Ribeiro. O psicólogo destaca que podemos ver esse comportamento o tempo todo! “No cenário político, social e até mesmo nas escolas. O político é corrupto, mas eu não tenho nada a ver com isso... Tirei nota ruim porque a professora é ruim... etc...E por aí vai”. De acordo com o profissional, é comum que algumas pessoas façam isso como forma de justificar a incapacidade de correr atrás dos seus sonhos, ou seja, é mais fácil culpar o chefe, a situação do País ou mesmo dizer se sentir perseguido em vez de lutar com todas as forças por um ideal, não é? 

Origem
A origem do problema do comportamento de vitimização pode ter raízes muito precoces na vida das pessoas. Em casa, por exemplo, o filho pode ver o pai reclamar do chefe autoritário, mas também assimila a incapacidade dele em buscar um trabalho melhor. Já na escola, cada vez mais os professores reclamam da interferência negativa dos pais quando eles tiram a autoridade dos professores frente a qualquer dificuldade de seus filhos. Segundo Ribeiro, para promover a saúde mental é importante que cada um trabalhe o que sofreu ou sofre na vida em uma terapia. Os traumas, conforme o profissional, existem e são pontos negativos para um desenvolvimento saudável. “Mas a imagem de coitadinha impedirá que a pessoa se torne plena, ou seja, protagonista de sua vida e não mera coadjuvante”. 

É preciso tratar
Usar o chamado “coitadismo” para atrair propositalmente a compaixão ou buscar a simpatia dos outros pode ser um triste mecanismo de compensação. Já quando a pessoa se habitua a usar desculpas para falhas frequentes, sem que elas demonstrem aprendizagem e crescimento com os próprios erros, podem necessitar de ajuda. “Quando as questões forem ligadas a temas da vida pessoal e afetiva, a psicoterapia será de grande ajuda. Agora, se o problema se repetir no contexto do trabalho, o coaching será uma estratégia interessante para dar um feedback e oferecer a possibilidade de modificação das crenças e do comportamento”. O psicólogo Armando Ribeiro explica que o cérebro é uma incrível máquina de aprender. A cada nova experiência significativa, ele é remodelado por intermédio do mecanismo da neuroplasticidade. “Podemos contribuir para fortalecer nossos hábitos saudáveis ou para a manutenção dos vícios. O importante é procurar ajuda para encontrar o recurso ideal para a mudança de comportamento. Não basta descobrir que temos problemas, pois todos temos. É importante ter o domínio de si próprio, ou seja, a aceitação do que não pode ser modificado, mas não pela desistência”. Falar sobre o assunto que incomoda é importante, mas não pode se transformar em um álibi para a inércia. “Ninguém melhora só dentro das sessões de terapia. A vida acontece fora dos consultórios. O fundamental é buscar ajuda para modificar os hábitos. Um pequeno passo por vez pode significar uma grande mudança na direção. Viver o momento presente, cultivando práticas de atenção plena (mindfulness), são atitudes sensatas para desligar o piloto-automático da vida cotidiana”. Já os problemas de saúde mental, como depressão, pânico, fobias... precisam de tratamento médico e psicoterápico, mas sempre existem pessoas que acabam usando esses sintomas como “muletas” para uma vida parcial. “A doença não tratada acaba virando uma desculpa para a falta de coragem de reescrever a própria história e mudar o seu final”.

Armando Ribeiro é psicólogo e coordenador do Programa de Avaliação do Estresse da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Possui certificação em Stress Management pela Harvard Medical School, nos EUA.

Um comentário:

  1. Vitimização é o tema da minha coluna de hj em A Tribuna. Amei as informações do psicólogo, que virou um amigo querido, Armando Ribeiro. Profissional incrível! A seguir, reproduzo algumas frases dele: "A imagem de coitadinha impedirá que a pessoa se torne plena, ou seja, protagonista da sua vida e não mera coadjuvante". "Quem acredita que é vítima do mundo, dificilmente aprende e cresce com as dificuldades". "Problemas emocionais não tratados acabam virando uma desculpa para a falta de coragem de reescrever a própria história e mudar o seu final". (post da jornalista Cláudia Duarte em sua página no Facebook).

    ResponderExcluir