terça-feira, maio 08, 2012

Inveja: admita que o sentimento existe e transforme-o em motivação

Inveja: admita que o sentimento existe e transforme-o em motivação

Por Francine Moreno
DiarioWeb
São José do Rio Preto, 8 de Maio, 2012 - 1:45

Você sabia que pode tirar proveito do fato da grama do vizinho ser mais verde que a sua - como diz o velho ditado? A inveja, uma das das emoções humanas mais sombrias, pode servir de alavanca para mover homens e mulheres a uma vida mais interessante e feliz. Basta apenas querer.



É preciso admitir o próprio sentimento, empregar essa informação para se conhecer melhor e desenvolver algo para o próprio bem. A inveja costuma aparecer quando amigos, parentes, colegas de trabalho e até celebridades estão numa situação melhor do que a sua. Há sempre alguém mais bonito, mais rico, bem casado, mais encantador, bem empregado ou melhor vestido.
O sentimento surge na infância, toma proporções maiores na adolescência e se amplia na fase adulta, principalmente porque é um período em que aumentam as responsabilidades, as cobranças, a competitividade, e muitos acabam se tornando mais mesquinhos.
O problema é que a inveja detona as relações sociais e amorosas. Muitas vezes, o invejoso, em vez de comemorar as realizações de um amigo, por exemplo, se ressente com ele. E na maioria dos casos a inveja faz mais mal aos invejoso do que àqueles que são alvo da ambição. A maioria do invejosos sofre muito porque teme situações novas, não tem coragem para agir ou viver de forma mais ousada.
De acordo com o professor, escritor e psicoterapeuta Renato Dias Martino, o invejoso precisa entender que a inveja é um sentimento doloroso. Aprender a lidar com ela, em vez de ser levado até inconscientemente, faz parte do aprendizado. Empregar essa conscientização pode ser um forma de se conhecer melhor e, consequentemente, injetar ânimo para alcançar suas metas.
Martino conta sua experiência pessoal de reconhecimento do sentimento, que o levou ao crescimento pessoal. Para ele, a distorção do sentimento foi transformada em aprendizado. “Quando era mais jovem, tinha inveja de mestres como Sigmund Freud. Certo dia, percebi que de nada adiantava ficar sentindo inveja deles e não me mexer.
O exemplo deles me alavancou a buscar algo melhor e comecei a procurar lugares para me especializar, a me tornar o que sou hoje. A inveja pode impulsionar para a concretização de um pesadelo ou a realização de um sonho.” O psicoterapeuta afirma que por meio de ajuda especializada o invejoso pode encontrar equilíbrio emocional. Um ambiente bom, saudável e maduro também pode proporcionar isso.
“O invejoso precisa assumir as rédeas de seus sentimentos para crescer, ou vai se enrolar cada vez mais.” Marcelle Vecchi, master practitioner em programação neurolinguística, afirma que o invejoso precisa entender que a inveja pode colaborar para aprender com aqueles que atingiram o ponto mais alto, o melhor emprego ou o melhor corpo.
Para ela, o primeiro passo pode ser muito difícil, mas é preciso persistência. “O invejoso precisa ter autoconhecimento. Se valorizar mais. Já que, na maioria das vezes, ele tem baixa autoestima, passou por frustrações, é mais reativo, ou seja, crítico, mas sem ação, paralisado”, define.
Para Marcelle, o invejoso que admitir seu problema e quiser ajuda deve fazer uma lista do que vai ganhar com as mudanças de comportamento. “A partir do momento que tiver a lista clara, é preciso segui-la passo a passo, sem pensar no conjunto todo, para não gerar desânimo. Com paciência e persistência, o invejoso logo perceberá os resultados. Vai enxergar que parou de patinar no mesmo lugar, eliminou sentimentos ruins como ódio e a vida passou a fluir melhor.”
 
 
Inveja é tema de encontro filosófico
A inveja será tema de um encontro filosófico no dia 26 deste mês, a partir das 14 horas, no anfiteatro da Unilago. A atividade, aberta ao público em geral, é um curso de extensão da universidade coordenado pelo professor, escritor e psicoterapeuta Renato Dias Martino. O curso tem 200 vagas (até o fechamento desta edição havia 16 restantes).
O encontro é denominado “Cogitações sobre a inveja”. O objetivo é conhecer perspectivas psicológicas sobre o sentimento de inveja e, com auxílio do pensamento psicanalítico, criar espaço para cogitar a posição dessa ordem de sentimentos dentro dos processo psíquicos. O curso é indicado para alunos do curso de psicologia e público interessado.
De acordo com Martino, a inveja pode ser definida como uma admiração, sem capacidades. “Eu admiro algo, mas me vejo incapaz de ser ou ter aquilo.” Para ele, a inveja pode acontecer pela primeira vez, segundo a psicanálise, ainda na infância. “A criança percebe que a mãe proporciona um bem-estar para ela que, quando está sozinha, não consegue sentir.”
Debater sobre a inveja é uma forma de entender uma das emoções humanas mais primitivas, e que todo mundo, um dia, já sentiu. “Nenhum ser humano está isento da inveja. Não há chance de nunca sentir. O que pode acontecer é alguém negar a inveja”, afirma Martino.
O psicoterapeuta afirma que a inveja é um dos capítulos de seu livro “Para Além da Clínica”, lançado em julho do ano passado pela Editora Inteligência 3. Martino tem um trabalho focado no estudo do funcionamento psíquico e da maneira como isso influencia a criação dos modelos de relacionamento que conduzem às experiências vividas.
Interessados podem se inscrever no site da Unilago (www.unilago.com.br), na seção cursos de extensão. Informações pelo (17) 3011-3866.




Saiba mais

- Como emoção complexa, a inveja sofre intensa influência da cultura e da criação. Em nossa cultura ocidental competitiva e individualista, a inveja é estimulada por todos os setores que são beneficiados em acentuar o sentimento de falta.

- Cultivar a inveja é altamente perigoso à saúde emocional, pois ela acentua o sentimento de menos-valia, baixa auto-estima e empobrecimento dos valores da vida. Sentir inveja de forma crônica e incontrolável pode levar à ruína emocional, mas também pode sinalizar à presença de doenças, tais como: depressão, distimia, entre outras.

- A autoconsciência é um passo importante para a compreensão das razões para ser afetado pela inveja, mas se essa emoção for intensa em sua vida é fundamental buscar ajuda profissional para entender as causas principais de tal emoção.

- Aprender a usar as emoções é uma das estratégias mais importantes para o bem-estar emocional. Descobrir o que as "pessoas invenjáveis" despertam em você e em outros pode revelar muito sobre o que deseja e sente falta, mas cuidado, pois a inveja é como erva daninha em um belo jardim: em vez de valorizarmos nossas qualidades e características únicas, podemos nos perder na busca de qualidades que admiramos nos outros.

- As pessoas que sofrem de inveja crônica acabam percebendo a própria vida e os seus valores como desinteressantes e de menor valor. Mas as pessoas que sofrem de inveja podem acabar sendo estimuladas a se tornar ainda melhores, uma vez que percebem melhor que os seus talentos e escolhas são objetos de desejo.

- Quem sofre de inveja crônica acaba desvalorizando os próprios sucessos pessoais e de outros com quem convive. Podem se tornar pessoas de difícil convivência, portanto, acabam sendo afastadas das relações sociais e perdem os amigos.

Fonte: Armando Ribeiro das Neves Neto, coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.