quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Comportamento e Infecção Hospitalar

APECIH JORNAL - Ano 18 - Nº 1
Informativo da Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar

Ciências do Comportamento e Infecção Hospitalar III:
Por que e como as pessoas mudam seus comportamentos?

Armando Ribeiro das Neves Neto
Psicólogo

Por que e como as pessoas mudam seus comportamentos vem se tornando uma das questões fundamentais na prática dos profissionais envolvidos em controle de infecção hospitalar. Frequentemente recebemos contatos de médicos, enfermeiros e tantos outros profissionais da saúde com estas questões que nos remetem aos mais antigos adágios filosóficos como o “Conhece a ti mesmo” escrito no templo de Delfos.

Diversas escolas do pensamento psicológico vêm tentando responder ao por que e como as pessoas mudam seus comportamentos, e algumas respostas atualmente foram fornecidas pela área denominada por Psicologia da Saúde. Existem diversos modelos psicológicos, pois a complexidade do comportamento humano exige estratégias diferentes para abordá-los.

Resumiremos alguns dos conceitos principais das ciências do comportamento aplicadas à área de Infecção Hospitalar. Houve uma grande revolução no modo como a Psicologia da Saúde busca compreender e explicar os comportamentos de risco e proteção, sejam estes individuais ou coletivos. A adequação dos comportamentos humanos a fim de prevenir riscos ocupacionais envolvendo material biológico não é uma classe de comportamentos diferentes dos demais comportamentos apresentados na vida cotidiana, portanto a revolução da psicologia cognitiva aponta para o reconhecimento dos fatores e valores intrínsecos ao modo do indivíduo avaliar às diversas situações do ambiente, ou seja, não é o ambiente o maior responsável pelos comportamentos adotados, mas a atenção seletiva destes indivíduos que está relacionada aos sistemas de crenças, valores e opiniões próprias. O foco então será voltado às cognições de saúde e doença dos profissionais envolvidos em controle de infecção hospitalar, mais do que seu perfil profissional, ou o seu background teórico/técnico ou infra-estrutura e equipamentos disponíveis no ambiente hospitalar.

O filósofo estóico Epicteto (55 d.C.) já dizia “Não são as coisas que nos perturbam, mas a forma como interpretamos o seu significado”.

Diante deste novo paradigma, a questão sobre o porquê as pessoas mudam fica ligada a todas as propostas que buscam compreender as verdades individuais, e não aquelas advindas de um conhecimento formal e exterior. Alguns modelos atuais descritos na literatura são: Modelo de Crenças em Saúde de Rosenstock, Modelo da Cognição Social e Auto-eficácia de Albert Bandura, Modelo Transteórico de Mudança do Comportamento de Prochaska e DiClemente, Teoria da Motivação para a Proteção de Rogers e etc.

A importância de se estabelecer o porquê as pessoas mudam os seus comportamentos, leva a segunda questão deste artigo: como então estabelecer mudanças comportamentais e duradouras em direção ao conhecimento atual sobre prevenção em controle de infecção hospitalar? A resposta continua sendo: mude suas crenças e valores individuais através de
uma proposta que envolva uma aprendizagem grupal personalizada e afetiva.

As dinâmicas grupais precisam fazer parte das diversas abordagens voltadas às mudanças dos comportamentos de risco e proteção a acidentes. A partir do levantamento das crenças pessoais e coletivas inadequadas (exemplos: “isso nunca acontecerá comigo”, “se contar que me acidentei serei julgado incapaz”, “minhas mãos são/ estão limpas”, “não tenho tempo para isso”, “se disser que tenho dúvidas, irão me rotular como um mau profissional”, “já sei de tudo isso” e etc.), a estratégia deve propor através de um clima descontraído e não punitivo, a vivência de cenas que levem a reflexão individual e coletiva das crenças desadaptativas mais importantes relacionadas a mudança comportamental desejada. Não pode faltar a dose certa de emoção, pois crenças individuais e coletivas são baseadas em uma construção afetivo-cognitiva, ou seja, só mudamos o que faz sentido para nós e o sentido advém de uma emoção agradável.

A teoria sobre a aprendizagem dependente de estado, resumidamente, alerta para a necessidade de se estabelecer um estado de atenção focada na tarefa e associada a um contexto de prazer e satisfação, pois só assim poderemos transformar a luta diária dos profissionais de controle de infecção hospitalar em uma atividade menos desgastante para o próprio profissional e potencialmente mais próxima da mudança comportamental desejada.


Bibliografia consultada

Brannon L, Feist J. Health Psychology: An introduction to behavior and health. USA: Wadsworth, 1999.

Neves Neto AR. Psicoterapia Cognitivo-Comportamental: Possibilidades em Clínica e Saúde. Santo André: Esetec, 2003.
Neves Neto AR. Ciências do Comportamento e Infecção Hospitalar. Jornal da Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar – APECIH. 16(3): 02, 2003.
Ogden J. Psicologia da Saúde. Portugal: Climepsi, 1999.
Straub RO. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artmed, 2005.














APECIH JORNAL - Ano 18 - Nº 1

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