sábado, janeiro 15, 2011

Corpo e mente em harmonia

Cuidar dos sentimentos é fundamental para a prevenção e a cura de diversas doenças. Fique atenta e domine suas emoções!



Por Rita Trevisan
Revista Shape
Enxaqueca, dor no estômago, diabetes, vitiligo...

Você sabia que o seu estado emocional e a maneira como encara os problemas contam muitos pontos para desenvolver essas e outras doenças? Pois é, enquanto algumas pessoas vivem literalmente o lema “tô nem aí”, outras vão somatizando. O problema é quando isso reflete diretamente na saúde. Não param de surgir pesquisas sobre a importância de ser bem-humorado, feliz e transformar as emoções negativas para esbanjar vitalidade. Corpo e mente estão completamente ligados. Por isso, não adianta apenas tomar um remédio para acabar com os sintomas visíveis, muitas vezes, é preciso mudar a forma como você lida com as situações da vida.

Mudanças de rumo

“Durante anos, defendia-se a ideia de que os aspectos físicos e psicológicos eram separados e que cada um mereceria um tratamento individualizado. Mas agora a medicina começa a despertar para a necessidade de olhar o indivíduo como um todo”, fala o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, professor do curso de Terapia Cognitivo-Comportamental em Saúde Mental da Universidade de São Paulo. Isso significa que precisamos ser avaliados por completo, levando em conta nossos aspectos psíquicos, comportamentais e sociais, seja para descobrir o motivo do adoecimento ou para pensar na cura.

Os homeopatas sempre levaram essa teoria muito a sério. Algumas consultas chegam a durar mais de uma hora e eles perguntam tudo sobre você, se sente mais frio ou calor, se prefere mais doce ou salgado, como são seus sonhos, se dorme bem ou tem insônia... Querem saber todos os seus hábitos para ver o que pode estar desencadeando alguma doença. Essa interação físico-psicológica é interessantíssima, pois ajuda muito a explicar aquelas doenças ou sintomas sem causa aparente. “Isso deixa claro que nem tudo o que ‘aparece’ em nosso corpo têm alguma causa física”, defende Neto. Um bom exemplo é a fibromialgia, algumas alergias e até a psoríase, que apresentam sinais visíveis, porém causas aparentes. “Daí a importância de tratar o paciente e não a doença”, enfatiza a psicodermatologista Márcia Senra, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Até enfermidades que nem imaginamos, como insuficiência renal, infertilidade e doenças do coração pode ser de fundo emocional, sabia?

A mestre em psicologia clínica Solange Lopes de Souza, presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, vai ainda mais longe e explica que cada um de nós tem um “órgão de choque”. “Ele é a parte mais sensível do nosso organismo, a que normalmente padece quando não conseguimos equilibrar ou expressar as nossas emoções”, esclarece. Qual seria a sua?

O seu corpo e você

Os órgãos e sistemas estão intimamente ligados à parte psicológica, é o que defende a bacharel em psicologia Cristina Cairo, autora do livro Linguagem do corpo (Ed. Mercuryo). Veja o que ela revela.

Hipertensão

O perfil: a pessoa que apresenta um quadro de pressão alta, em geral, é excessivamente preocupada e ainda não aprendeu a aceitar perdas do passado. Ao contrário, fica remoendo detalhes de uma situação em que, a seu ver, ela falhou.

A solução: o ideal seria libertar-se de situações desagradáveis que a incomodam e do medo infundado de questões relacionadas ao futuro.

Câncer

O perfil: guarda ressentimentos antigos, o medo de ser deixada por alguém que ama ou a perda de um grande amor podem desestabilizar completamente o organismo, levando a distúrbios celulares que causam os tumores.

A solução: a chave do tratamento é aprender a aceitar as condições que a vida impõe, libertando-se do passado e investindo em novos projetos para ter foco.

Gastrite

Perfil: indica necessidade de ser amado, compreendido, confortado. Pode sugerir uma tendência ao pessimismo.

A solução: para tratar o problema, vale a pena acreditar mais no potencial individual e partir para a ação, na tentativa de alcançar os objetivos que almeja. Uma conduta acomodada pode agravar o quadro e fazer com que a gastrite se transforme em úlcera.

Cardiopatias

Perfil: é a falta da alegria de viver ou a sensação de ter o coração “apertado” de tanto sofrimento. Normalmente, os cardíacos são autoritários, não admitem erros e assumem um comportamento inflexível.

A solução: uma alternativa, para prevenir ou ajudar no tratamento de doenças do coração, é assumir uma atitude mais tranquila, que não prevê tantas exigências a si mesmo e aos outros. O melhor é evitar as tensões ao máximo.

Vitiligo

Perfil: quando nos sentimos ameaçados e não encontramos meios de transmitir nossos pensamentos e de nos fazer entender, as manchas começam aparecer no rosto. Nos braços, indicam extrema dificuldade para lidar com os mais próximos seja parente ou amigos.

A solução: o ideal, portanto, seria tentar se abrir mais, sem medo da reação dos outros e dedicando carinho e paciência mesmo àqueles que a incomodam.

A ciência fazendo a sua parte

O ambulatório de cefaleia do Hospital das Clínicas está adotando a mesma postura da homeopatia de fazer uma “entrevista” com o paciente. “Praticamente 100% das pessoas que se queixam de dor por mais de 15 dia num mês apresentam problemas de ordem emocional, sendo ansiedade e depressão os mais comuns”, explica o neurologista Geraldo Dare Rabello, responsável pelo ambulatório. Por isso, um tratamento que não considera o aspecto psicológico está fadado ao fracasso.

Nos casos de câncer, as coisas não são diferentes. No Instituto Nacional do Câncer (Inca), assim que o paciente começa a se tratar, já recebe acompanhamento psicológico. “Há evidências de que as complicações estão intimamente ligadas aos aspectos emocionais”, diz a chefe do serviço de psicologia do Inca, Maria da Conceição da Costa Moreira.

Problemas de fertilidade

O perfil: tanto no homem quanto na mulher, podem indicar mágoas em relação ao pai, ainda que esse sentimento esteja no mais profundo do inconsciente.

A solução: é o perdão que favorece a melhora no quadro.

Diabetes

O perfil: apego ao passado, sensação de que a realidade atual não tem amis a mesma graça. A doença na maioria das vezes aparece depois de uma série de perdas, quando a insegurança predomina.

A solução: a melhora dependerá de uma postura interessada em ampliar conhecimentos e oportunidades, para redescobrir a alegria de viver.

Fibromialgia

O perfil: os portadores da doença são em geral pessoas muito apegadas à família ou ao trabalho e querem resolver os problemas dos outros. A tentativa, evidentemente, está fadada ao fracasso, já que cada um deve arcar com suas responsabilidades e cuidar da própria vida.

A solução: adotar um comportamento mais sereno, permitindo autonomia àqueles que a cercam, confiando que são capazes de resolver seus contratempos particulares.

Insuficiência renal

O perfil: o medo do futuro gera pensamentos tensos, que podem influenciar negativamente no funcionamento dos rins.

A solução: para ajudar no tratamento, assuma pensamentos alegres e otimistas, acreditando que nada nem ninguém poderá destruir seus sonhos.

Enxaqueca crônica

O perfil: normalmente atinge pessoas que tiveram uma educação autoritária e repressiva, que foram forçadas a amadurecer e que se tornaram racionais de mais.

A solução: O quadro pode ser minimizado com uma postura mais flexível perante a vida, sem tantas culpas ou cobranças. Só para se ter ideia, o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto em uma pesquisa sobre enxaqueca que avaliou pacientes atendidos no ambulatório de gastroenterologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) constatou que 45% dos cem voluntários também eram depressivos, 60% muito ansiosos e 62% manifestavam estresse crônico. “Esses estudos mostram que apenas o tratamento médico pode não ser suficiente, já que há um aspecto emocional. Só é possível entender as doenças quando avaliamos todo o histórico do paciente. E isso significa incluir os acontecimentos importantes de sua vida e as emoções que eles lhe provocaram”, explica Armando Ribeiro das Neves Neto.

Gripes e resfriados

O perfil: quem pega essas doenças com facilidade normalmente se vê sobrecarregada. Tem tantos compromissos que sente falta de um tempo para si mesma.

A solução: o ideal seria colocar os seus interesses particulares entre as prioridades, no dia a dia. E não se sentir obrigada a fazer aquilo que não quer.

Insônia

O perfil: preocupação exagerada com o futuro, medo de estar errando em questões importantes.

A solução: aposte mais na sua capacidade de decidir e de resolver problemas, acreditando que os bons resultados aparecerão como uma resposta natural ao seu trabalho e dedicação.

Descobri que era pré-diabética...

Depois de engordar 11 quilos em menos de um ano. Foi quando procurei um endocrinologista e, após alguns exames, recebi o diagnóstico: tinha pré-disposição genética, aliada a uma alta dose de estresse. Esses dois fatore deixaram o meu organismo vulnerável à manifestação da doença. Estava vivendo um período turbulento e meu emocional ficou muito abalado. Fui morar sozinha, acabei tendo que administrar mais coisas do que era capaz, me enrolei com a compra e venda de imóveis e carros, perdi dinheiro e como não soube lidar com tudo também acabei rompendo com o meu noivo. Tudo isso interferiu na minha saúde, de maneira decisiva. Tive de tomar medicamento, me alimentar melhor e investi em corrida. Além disso, mudei a minha maneira de encarar os problemas. Percebi que, seja qual for a carga de energia que eu desperdiço na tentativa de resolver os problemas, eles continuam os mesmos. Então, comecei a me cobrar menos e passei a aceitar que, às vezes, as renúncias são inevitáveis”, conta Luana Cristina dos Santos, de 26 anos, que está curada, já perdeu 7 kg e vai se casar com o namorado com quem tinha terminado. Para o endocrinologista Marcos Tambascia, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a relação entre o drama pessoal de Luana e a alteração no nível de glicose no sangue é clara. “O estresse libera na corrente sanguínea substâncias como o cortisol, que podem aumentar a resistência à insulina em pessoas que já apresentam chances maiores de desenvolver a doença, por causas da herança genética, e foi exatamente o que aconteceu”, explica.

O estresse

O vilão de diversas doenças está sendo alvo de muitas pesquisas. Há 19 anos, o Instituto HeartMath, estuda como o mecanismo mente-corpo influencia no aparecimento de doenças e na conquista da saúde. Segundo o especialista Rollin MacCraty, que conduziu uma pesquisa sobre o impacto do estresse, constatou-se que de 75% a 90% das pessoas que vão ao médico pela primeira vez reclamam de tensão crônica. Armando Ribeiro das Neves Neto conta que, ao avaliar voluntários que tinham os batimentos cardíacos mais descompassados, verificou que eles eram portadores de estresse médio a severo. “Estou muito envolvido nessas pesquisas sobre a influência do nosso emocional no aparecimento de doenças”, revela. Outro estudo provou que pessoas que “vivem” muitos sentimentos negativos estão duas ou três vezes mais propensas a desenvolver hipertensão arterial.

E como acontece?

A somatização (problemas de saúde provocados por distúrbios de origem psíquica, com ou sem causa orgânica) – ocorre no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. O que a medicina ainda investiga é o caminho das mensagens transmitidas pelas emoções, do cérebro até os outros sistemas. Sabe-se que ela é feita por proteínas, hormônios e neurotransmissores. Outra grande descoberta são os neuropeptídios. “Através da corrente sanguínea, eles comunicam o nosso estado emocional”, explica Armando Ribeiro das Neves Neto. Nada pela despercebido pelo corpo.

Por uma vida mais saudável

Com a confirmação de que as emoções podem provocar doenças sérias, precisamos aprender a dominá-las e segurar as rédeas da situação. Isso significa tentar manter o equilíbrio. Veja algumas dicas para começar a colocar em prática:

Se autoavalie diariamente – reconheça os pensamentos e sentimentos negativos que podem estar prejudicando sua autoestima e o convívio com seus amigos, parentes e colegas de trabalho. “Muitas emoções quando frequentes acabam virando hábito. Então, se percebe que está ficando doente, tente descobrir o que está provocando esse quadro, para mudá-lo”, explica Armando Ribeiro das Neves Neto. Isso realmente não é simples, mas é possível. “O mais importante é conseguirmos controlar nossos pensamentos e sentimentos”, diz o especialista. Não descuide de si mesma, nunca.

Peça ajuda – a terapia cognitivo-comportamental pode ser uma boa aliada. O grande objetivo dessa técnica é ensinar o paciente a identificar pensamentos distorcidos, que geram reações emocionais negativas e podem levar aos sintomas físicos. Marque sua consulta!

Libere suas tensões – isso vai ajuda-la a se manter bem e, consequentemente, preservar o bom funcionamento do seu organismo. “O estresse crônico libera substâncias químicas capazes de prejudicar o sistema imunológico, deixando-nos mais vulneráveis ao aparecimento de doenças físicas e psicológicas”, garante a psicodermatologista Márcia Senra. Escolha o que quiser: caminhada, ioga, meditação, pilates, corrida, academia...

Pense positivo – tente enxergar as coisas boas da vida. Adote essa postura até mesmo diante de uma doença (não é fácil, mas você consegue!). “Depois de enfrentar uma dificuldade, podemos nos tornar mais flexíveis, e passamos a relevar os pequenos problemas”, garante a psicóloga Solange Lopes de Souza. Você pode!


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